segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Juras Secretas - 35 36 37 38 39

 


                                     Jura Secreta 35

 pontal.foto.grafia 

Aqui, 
redes em pânico pescam 
esqueletos no mar 
- esquadras - descobrimento 
espinhas de peixe convento - 
cabrálias esperas relento - 
escamas secas no prato 
e um cheiro podre no 
AR 

caranguejos explodem

mangues em pólvora 
Ovo de Colombo quebrado 
areia branca inferno livre 
Rimbaud - África virgem 
carne na cruz dos escombros 
trapos balançam varais 
telhados bóiam nas ondas 
tijolos afundando náufragos 
último suspiro da bomba 
na boca incerta da barra 
esgoto fétido do mundo 
grafando lentes na marra 
imagens daqui saqueadas 

Jerusalém pagã visitada 
- Atafona.Pontal.Grussaí - 
as crianças são testemunhas: 
Jesus Cristo não passou por aqui 

Miles Davis fisgou na agulha 
Oscar no foco de palha 
cobra de vidro sangue na fagulha 
carne de peixe maracangalha 
que mar eu bebo na telha 
que a minha língua não tralha? 

penúltima dose de pólvora 
palmeira subindo a maralha 
punhal trincheira na trilha 
cortando o pano a navalha 

- fatal daqui Pernambuco 
Atafona.Pontal. Grussaí - 
as crianças são testemunhas : 
Mallarmé passou por aqui. 

bebo teu fato em fogo 
punhal na ova do bar 
palhoças ao sol fevereiro 
aluga-se teu brejo no mar 
o preço nem Deus nem sabre 
sementes de bagre no porto 
a porca no sujo quintal 
plástico de lixo nos mangues 
que mar eu bebo afinal? 

 

 Jura Secreta 36

cardio.grafia da pele

que esta palavra bendita 
nãos seja dor quando mal dita 
como espinha quando aflora 
ou espora enquanto irrita 

minha cardio.grafia em suma 
não é pena nem pluma 
apenas palavra que resuma 
o silêncio como agora 
ou sonora enquanto grita

 

 Jura Secreta 37

baby é cadelinha 

devemos não ter pressa 
a lâmina acesa sob o esterco de Vênus 
onde me perco mais me encontro menos 

de tudo o que não sei 
só fere mais quem menos sabe 
sabre de mim baioneta estética 
cortando os versos do teu descalabro 

visto uma vaca triste como a tua cara 
estrela cão gatilho morro: 
a poesia é o salto de um vara 

disse-me uma vez só quem não me disse 
ferve o olho do tigre enquanto plasma 
letal a veia no líquido do além 
cavalo máquina meu coração quando engatilho 

devemos não ter pressa 
a lâmina acesa sob os demônios de Eros 
onde minto mais porque não veros 

fisto uma festa mais que tua vera 
cadela pão meu filho forro: 
a poesia é o auto de uma fera 

devemos não ter pressa 
a lâmina acesa sob os panos quem incesta ? 
perfume o odor final do melodrama 

sobras de mim papel e resma 
impressão letal dos meus dedos imprensados 
misto uma merda amais que tua garra 
panela estrada grão socorro: 
a poesia é o fausto de uma farra 

 

 Jura Secreta 38

travessia

de Almada vou de atravessar o Tejo 
barco à vela Portugal afora 
em Lisboa vou compor um fado 
e cantar no Porto feito um blues 
rasgado de amor pela senhora 
que me espera em paz 

e todo vinho que eu beber agora 
será como beijo que eu guardei inteiro 
como um marinheiro que retorna ao cais 

 

 Jura secreta 39

 transPiração ANTROPO / fágica 

por onde quer que eu te cantasse 
devorasse amasse ou comesse 
não bastaria o poema

por onde então começasse 
Jura Secreta que fosse 
palavra indiscreta escrevesse 

meus dentes em teu corpo deixasse 
a língua onde quer que lambesse 

não bastariam meus dedos em riste 
lavrando a carne onde berras 
se queimas no inferno de Dante 

e não sabes ver que o amante 
é o SER transPirado da Terra 


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