segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Juras Secretas - 25 26 27 28 29

 


                                    Jura secreta 25 

Mar de Búzios

vasa sob meus pés um Rio das Ostras 
as minhas mãos em conchas 
passeiam o mangue dos teus seios 
e provocam o fluxo do teu sangue 

os caranguejos olham admirados 
a volúpia dos teus cios 
quando me entregas o que traz 
por entre as praias 
e permites desatar 
todos os nós do teu umbigo 

transbordando mar de búzios 
oceanos - Atlântico pulsar entre dois corpos 
que se descobrem peixes - 
e mergulham profundezas 

qualquer que seja a hora 
em que se beijam num pontal 
em comunhão total com a natureza 

 

 Jura secreta 26 


eu sou Drummundo 
e me confundo na matéria amorosa 
posso estar na fina flor da juventude 
ou atitude de uma rima primorosa 

e até na pele/pedra

 quando me invoco 
e me desbundo baratino 
e então provoco

um barafundo Cabralino 

e meto letra no meu verso 
estando prosa 
e vou pro fundo 
do mais fundo 
o mais profundo 
mineral Guimarães Rosa 

 

 

Jura secreta 27

 rio em pele feminina 

o rio com seus mistérios 
molha meu cio em silêncio 

desejo o que nos separa 
a boca em quantos minutos 

as flores soltas na fala 
o pó dos ossos dos anos 

você me diz não ter pressa 
seus olhos fogo na sala 

o beijo um lance de dados 
cuidado cuidado cuidado 

que sou um anjo de fadas 
não beije assim meus segredos 

meus olhos faróis nos riachos 
meus braços dois afluentes 
pedaços do corpo do rio 
meus seios ilhas caladas 
das chamas não conhece o pavio 

se você me traz para o cio 
assim que o sexo aflora 
esta palavra apavora 

o beijo dado mais cedo 
quebra meu ser no espelho 

meu cerne é carne de vidro 
na profissão dos enredos 
quanto mais água me sinto 
presa ao lençol dos seus dedos 

o rio retrata meu centro 
na solidão de mim mesma 
segundo a segundo nas águas 

lá onde o sol é vazante 
lá onde a lua é enchente 
lá onde o rio é estrada 

onde coloca seus versos 
me encontro peixe e mais nada 

 

 

Jura secreta 28 

A Traição das Metáforas

 

critico

quem lambe bota de milico

quem baba o ovo

das serpentes

 

quem deu o golpe contra Dilma

é o mesmo que enforcou Tiradentes

 

Jura secreta 29

                       esfinge 

o amor 
não é apenas um nome 
que anda por sobre a pele 
um dia falo letra por letra 
no outro calo fome por fome 
é que a pele do teu nome 
consome a flor da minha pele 

cravado espinho na chaga 
como marca cicatriz 
eu sou ator ela esfinge: 
Clarice/Beatriz: 

assim vivemos cantando 
fingindo que somos decentes 
para esconder o sagrado 
em nossos profanos segredos 
se um dia falta coragem 
a noite sobra do medo 

é que na sombra da tatuagem 
sinal enfim permanente 
ficou pregando uma peça 
em nosso passado presente 

o nome tem seus mistérios que 
se escondem sob panos 
o sol é claro quando não chove 
o sal é bom quando de leve 
para adoçar desenganos 
na língua na boca na neve 

o mar que vai e vem não tem volta 
o amor é a coisa mais torta 
que mora lá dentro de mim 
teu céu da boca é a porta 
onde o poema não tem fim 


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