Atentado poético
a hipocrisia aqui é muita
liberdade muito pouca
com meus dentes
língua/navalha
vou rasgar a tua roupa
para
esse poema bomba
explodir na tua boca
obscuro objeto do desejo
bandeira nacional
com palavras
sons
imagens
versos
inauguro o monumento
no planalto central
araçá azul
domingo no parque
vapor barato
mal secreto
pérola negra
construção
cabeça Gothan City
poema concreto
arte poesia teatro cinema pós
poema
terra em transe tropicália grande
sertão
veredas vidas secas
memórias do cárcere
parangolés
hélio oiticica
artur bispo do rosário
bacurau
seja herói seja marginal
tragédia infame
empresto minha voz aos deserdados
os desnutridos
os que não tem pela manhã café
com pão
e sobre a mesa no almoço nem mesa
nem carne seca com farinha
espinha de peixe na garganta
é o que sobrou pra curuminha
empresto meu corpo minha voz
a esses personagens
os que tem sede os que tem
fome
ou os que morrem assassinados
nos guetos nos campos nas cidades
por balas de fuzil está fudido o brasil
entregue as traças então me resta
exterminar o nome o sobrenome o
apelido
do causador dessa desgraça
há muito tempo não recebo
cartas de ninguém
mas não rezo padre nossos
simplesmente para dizer amém
já fui católico rezei terços ladainhas
acompanhei a procissão dos afogados
na Tapera
para soletrar a palavra Cacomanga
e entender que o barro da cerâmica
trago grudado na minha íris retina
meu batismo de fogo
foi numa
Santa Cecília
entre víboras e serpentes
mordi a hóstia do padre
sua saia preta me levou ao pânico
de sonhar com juízes
e hoje saber o que são
minha África
são os olhos negros
de Madame Satã
na língua tenho uma sede felina
na carne essa fome pagã
sou um homem comum
filho de Ogum com Iansã
se ela me pisar
nos calos
me cumer o fígado
me botar de quatro
assim como cavalo
galopar meus pelos
devorar as vértebras
Dani-se
se ela me vier de
unhas
me lascar os dentes
até sangrar o sexo
me enfiar a faca
apunhalar meus olhos
perfurar meus dedos
Dani-se
se o amor for
bruto
até mesmo sádico
neste instante lírico
se comédia ou trágico
quero estar no ato
e Dani-se o fato
deste sangue quente
em tua boca dos infernos
deixa queimar os ossos
e explodir os nossos
poemas físicos pós modernos
Dionisíaca
da su-real pornofonia
o outubro
me deixou no tudo nada
a luz branca sem sono
em nossos corpos de abandono
ela arquitetava uma nesga
entre as frestas da janela
luz do luar nos olhos dela
girassóis em desmantelos
por entre poros entre pelos
minhas unhas tuas costas
Amsterdã nos teus cabelos
o que Van Gog me trazia
era branca noite de outono
que amanheceu sem ver o dia
nossos corpos estavam banhados
de vinho tinto e poesia
FULINAIMAGENS
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