sábado, 2 de outubro de 2021

o fauno e a flauta

 


              nu – literalmente - nu

 

afio ainda mais
a palavra/faca
sílaba/estilete
pornofonia/gilete
poema/navalha
tonicidade/canivete

 

tudo arma branca
subversão bandida
malandragem

mallarmagem
da mão esquerda e torta
para cortar o mofo que viceja
em cada voragem morta

 

vez em quando
re-inventosagaranas
fulinaímicas/linguagem
toco fogo na mortalha
sem metáfora ou retreta
dispo as fardas/literagens
fico nu ao pé da letra.

 

 o fauno e a flauta

para daniela pace

pela imagem musa

 

o fauno lê baudelaire
do outro lado da trama
enquanto dorme a donzela
com uma rosa entre as coxas

 

o fauno traça o poema
na geografia do corpo
atravessa o vértice do tempo
com o seu falo flamando  chamas
por não ter  juízo algum

 

com sua flauta ele  toca
pétala por pétala
a porta de entrada
o portal do paraíso

sem pensar pudor nenhum

 

o lugar da memória 
ou metalírica antropofágica

 

em são pedro de alcântara
não foram apenas os nomes
entre os casarões coloniais
do século dezenove
que movem as pedras

carcomidas do cais

na sala do bistrô 
ela me matou a fome
feijão tropeiro no prato
no prato feijão tropeiro 

a língua no espírito santo

experimenta a pimenta

pimenta do espírito santo

na língua novo tempero

 

mágica metáfora

fábula primeira
pavio de lamparina

faíscas claras na gema
entre os pelos daquela mina
o fogo o meta/poema
vai queimar a carne inteira

 

 

o nome da musa

 

no corpo da palavra
teu nome está cravado
nos dentes da memória

na carne grafitei teus dias 
porque  vida é qualquer hora

 

 

o poeta enquanto coisa

 

por um poema 
que desconcerte
entorte
desconforte
arrombe a porta
dos céus 
da tua boca

arranhe os dentes
da loba
arrebanhe os cordeiros
no pasto
e lhes ensine
a subverter
as ordens do pastor

assumo o risco
não sou  demo
nem corisco 
eu sou cantor

 

 o poeta enquanto coisa 1

 

bashô 
um TorQuato aqui
re-encarnou

toda viagem de volta
transpoema
que o vento não levou

 

 tua lã fosse meu linho

 

fosse clarice

uma mulher aos trinta

em tudo que ainda sint(r)a

como um mar pulsando ostras

 

beijaria o sal nas tuas  coxas

entre deuses céus infernos

fosse sagrado – não profano

nossos desejos mais e-ternos

 

fosse nu – corpo sem panos

como o vento nos vinhedos

em teus cabelos – desalinhos

os teus poros nos  meus dedos

tua lã fosse meu linho

tua língua entre meus dentes

em nossas bocas tinto – vinho


Artur Gomes

FULINAIMAGENS

www.fulinaimagens.blogspot.com

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