sábado, 2 de outubro de 2021

antropomágica

 


                                            língua

 

minha língua

é safada

nua e crua

não gasta palavra a toa

não canta palavra gasta

nem é fado de lisboa

 

é

blues rasgado

pedra de toque

samba rock

plug ligado

no navio ou na canoa

bebe do rio

e de sampa

nos demônios da garoa

 

fio desencapado

tensãoeletricidade

tesãocanibalidade

na voracidade da pessoa

 

lavra da palavra quero

 

re-invento a palavra cláudia
na lavra que ela mais gosta
pode ser que seja vento
jogo brisa tempestade
dama de espada do fogo

 

re-invento a palavra lobo
muito mais que liberdade
amor desejo saudade
onde quer que lá esteja
a palavra que deseja
onde eu mais possa criar

 

re-invento a palavra pedra
xangô oxum na mesma água
se alimentando das algas
que re-inventamos no mar

 

 mamãe coragem

 

numa canção do lenine
o peixe está na rede
o mar está com sede
o rio agora chora

 

onde esta cidade pedra
veracidade medra
eu te esfinjo drama

 

onde a ferocidade fedra
eu te desejo deda
eu te devoro dama

 

pensando a trama torquato
eu disse mamãe coragem
a vida é sagaranagem

na elegia da hora
fulinaíma é viagem

te levo na minha bagagem
não chora mamãe não chora

 

 met/áfora 2

 

não me verás lugar algum enquanto os dentes não forem postos e na mesa tenha espaço para todos. esse país que atravesso corpo devassado em grito na cara do silêncio na boca dos escravizados eu que venho das profundezas desse tempo escuro onde as caras soterradas no asfalto onde os homens de verde/oliva despejavam chumbo sobre nossas palavras. não me verás lugar algum o rosto que em mim verás agora é uma máscara que o tempo se encarregou de moldurar sobre o pescoço.

 

 moinhos de vento

 

por tanto tempo
por tanta escrita
por tanta carta
sem respostas
nossos moinhos de vento
muito além da mesa posta

 

ainda trago em mim
tuas mãos
tuas coxas
tuas costas

 

a tua língua
entre os dentes
em ex-camas que não tivemos
em madrugadas expostas

 

e tua fome era tanta
em tudo o que não fizemos
nesse teu corpo de santa
naquele tempo de bestas
na caretice de bostas

 

 antropomágica

 

a primeira vez

foi um primeiro beijo então roubado

ali já ficou sacramentado em tropicália

o que iríamos desvendar

por entre cinzas nos currais

nas aldeias, ocas, nas taperas

por quantas Eras iríamos encontrar

 

agora como  pa/lavro outras amoras

plantei tuas sementes

no quintal da estação três cinco três

os frutos colherei junto ao teu nome

da tua carne comerei mais uma vez

 

no coração dos boatos

para Uilcon Pereira - in memória

 

biútim evaristim evaristoa passava sem querer pelos telhados assombradados in braziLírica com seu minúsculo gravadorzinho de bolso quando percebeu no jaburu um vozerio estranho como um escárnio ao povo de bizâncio, o vampiro das planilhas dialogava azedamente com o bandido das neves, combinando os pagamentos das operações ocultas, obras invisíveis lá pelos quebra mares do porto de santos.

 

depois de captar todas as falas, vozes, de mais alguns fantasmas presentes no palácio, biútim entregou seu gravadorzinho aos delegados do presídio de absinto e como nunca teve a ilusão que o seu trabalho fosse resultar em  alguma coisa sua gravação foi arquivada, e o seu gravadorzinho foi queimado pelos bispos/pastores/deputados/senadores  da igreja universal, para constatação da invasão neo-pentecostal pelos telhados braziLíricos, onde tudo termina na avenida nos enredos su-reais do carnaval


Artur  Gomes

FULINAIMAGENS

www.fulinaimagens.blogspot.com

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