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dentadas no pão e a faca suja de manteiga entreguei-me ao desejo de olhar o
corpo do poema nu ainda virgem deitado sobre a grama no quintal do casario no cafezal rolava um blues vestido de
algodão branca flor entre as sílabas tônicas e a fonética das cores entre o vão
das coxas brancas de alfazema sopravam ventos de alecrim
algum deus
agora
agora
que tenho entre as pernas
os seus
dados coloridos
acho divertido
o amor o sexo
quando brincamos
de cobra cega
durante o coito
matinal
lindo é acordar e gozar
todas manhãs
com teu impulso
dentro
e o mar ser logo ali
na lua
quando estamos sob os lençóis
nessa cama de madeira
que meu avô
construiu sem pensar
para que
ela serviria
gargaú
poética
amoras
ame-as : ou devoras
clarice mora no silêncio
vive em entre/linhas
fala monossílabas
quando toca as entre/minhas
come
as juras secretas
como fossem chocolates
morde o líquido das delícias
ao entrar em sintonia
em cada letra que namora
clarice
a
mulher que come livros
isadora a mulher que me devora
zeus me disse
ind/gesta
uma caneta
pelo amor de deus
uma máquina de escrever
uma câmera por favor
quero um computador
nem que seja pós moderno
vamos fazer um filme
vamos criar um filho
deixa eu amar a lídia
que a mediocridade
desta idade mídia
não coca cola mais
nem aqui nem no inferno
o tempo
é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no in/cons/ciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
caminho de pedras
o cenário
vale dos vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma jura secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo
mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém
desconfiguração do corpo
os estilhaços do corpo
estão espalhados
nas cidades
:
pernas aqui
braços ali
cabeças acolá
na total
desconfiguração
:
-
cabeça/tronco/membros
as cidades
estão entupidas
de fragmentos de populações
destroçadas em desespero
a crueldade é tanta que dificilmente em qualquer cidade se encontra um ser humano por inteiro
Artur Gomes
FULINAIMAGENS
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