segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Juras Secretas - 40 41 42 43 44

 


                                    Jura Secreta 40 

moro no teu mato dentro 
não gosto de estar por fora 
tudo que me pintar eu invento 
como o beijo no teu corpo agora 

desejo-te pelo menos enquanto resta 
partícula mínima micro solar floresta 
sendo animal da Mata Atlântica 
quântico amor ou meta física 
tudo o que em mim não há respostas 

metáfora D´alquimim fugaz Brazílica 
beijo-te a carne que te cobre os ossos 
pele por pele sobre tuas costas 

os bichos amam em comunhão na mata 
como se fosse aquela hora exata 
em que despes de mim o ser humano 
do corpo rasgamos todo pano 
e como um deus pagão pensamos sexo. 


Jura Secreta 41

 Goytacá Boy 
musicado e cantado por Naiman 
no CD fulinaíma sax blues poesia 

ando por São Paulo meio Araraquara 
a pele índia do meu corpo 
concha de sangue em tua veia 
sangrada ao sol na carne clara 

juntei meu goytacá teu guarani 
tupy or not tupy 
não foi a língua que ouvi 
em tua boca caiçara 

para falar para lamber para lembrar 
da sua língua arco íris litoral 
como colar de uiara 
é que eu choro como a chuva curuminha 
mineral da mais profunda 
lágrima que mãe chorara 

para roçar para provar para tocar 
na sua pele urucum de carne e osso 
a minha língua tara 
sonha cumer do teu almoço 
e ainda como um doido curuminha 
a lamber o chão que restou da Guanabara
 

 

 Jura Secreta 42

 para Ana Gusmão 



xangô é parte da pedra 
exu fagulha de ferro 
ogum espada de aço 
faz do meu colo teus braços 

oxossi é carne da mata 
yansã é fogo vento tempestade 

yemanjá água do mar 
oxum é água doce 
oxalá em ti me trouxe 

te canto como se fosse u 
m novo deus em liberdade 



sou teu leão de fogo 
todo jogo que me propor eu topo 
beber teu copo comer da tua comida 

encarar de frente 
a janela de entrada 
e se for preciso a porta de saída 

 

 Jura Secreta 43

 veraCidade 

por quê trancar as portas 
tentar proibir as entradas 
se já habito os teus cinco sentidos 
e as janelas estão escancaradas ? 

um beija flor risca no espaço 
algumas letras de um alfabeto grego 
signo de comunicação indecifrável 
eu tenho fome de terra 
e esse asfalto sob a sola dos meus pés 
agulha nos meus dedos 

quando piso na Augusta 
o poema dá um tapa na cara da Paulista 
flutuar na zona do perigo 
entre o real e o imaginário 
João Guimarães Rosa

Caio Prado

Martins Fontes 
um bacanal de ruas tortas 

eu não sou flor que se cheire 
nem mofo de língua morta 
o correto deixei na Cacomanga 
matagal onde nasci 

com os seus dentes de concreto 
São Paulo é quem me devora 
e selvagem devolvo a dentada 
na carne da rua Aurora 

 

 Jura Secreta 44

 para Juninho Vaccari 

eu sou o outro que habita 
dentro do meu outro eu 
não a casca da cápsula 
da carcaça aqui de fora 

o que se vê no espelho 

é só miragem

 - Narciso mergulhado 
à própria sombra -

 

o cavalo 
na folhagem esse sim 
é o que se vê na tela 

quando a câmera revela 
o concreto da outra pessoa 
que não sou 


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