segunda-feira, 27 de setembro de 2021

poéticas 2

 


ma cum ba

 abaráebóubu  axé babá

nacarnavalha dos tambores

o corpo incorpora o tempo/dança

a língua de exu

lambe as coxas de yansã/menina

os pelos/púbis ossanha

embaixo dos tecidos

palavra líquida lavra pelas pernas

Eros eletrizando peles bocas pelos

gritos enquanto  o rito segue

seus ancestrais preceitos

ma cum ba no meu peito

xangô meu feiticeiro

oxum encanto  tantas  línguas

cantam  pra tirar quebrando

de algum corpo nem santo

quando ogum vem pro terreiro

 

anjo torto

 

eu sou o que invoca 
o que provoca 
e incorpora 
desconcentra 
desconforta 
desconstrói 
e desconcerta

 

eu sou o que interpreta

representa 
o que inventa 

 e desafora

 

o anjo torto 
graças a zeus 
a pedra e ao machado de xangô

 

a capitã do mato

a  caipora 
me xinga de poeta enganador 
mal sabe ela 
que eu sou da reza 
e que o homem que se preza

nunca se escraviza 
com chicote de feitor


metáfora

 

meta dentro
meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro 
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina 
com facho de fogo na retina 
pra clarear o fosso escuro

 

psicótica – 67

 não frequento academias

físicas – e muito menos literárias

minha palavra avária

está à beira do precipício

nem sei porque não continuei

internado no hospício

onde choques elétricos aconteciam as tantas

no manicômio henrique roxo

na cidade de campos dos goytacazes

onde a medicina psiquiátrica

era exercida por capatazes de médicos açougueiros

e um capixaba de nome vespasiano

não resistiu ao surto

explodiu a cabeça contra a parede

e nenhum jornal da cidade

noticiou o suicídio

que eu trago na lembrança

como  dentes encravados na memória

 

meta/fórica

 ouço a música

nesse disco estrangeiro

a musa tem o nome: guanabara

no silêncio ela ri da nossa cara

a flor do mangue agora mora

onde seu leito jorra lama

por sua boca desdentada

peixe podre explode angra

em meu poema carNAvalha

naturalismo onde supunha

sal da terra no esgoto

eco sistema não interessa

ao senhor do mato grosso

agro-negócio é matadouro

soja pasto para os bois

o simbolismo da escrita é só metáfora

a concretude o modernismo vem depois




 Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimicamente.blogspot.com

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