segunda-feira, 27 de setembro de 2021

no mural da maresia

 


                                              poética 30

 

irina quem diria
a sua pele grafia
em minha íris retina
come   algas cristalinas

no brumal da maresia
no mar de amaralina
em salvador da bahia

 

 

 poética 31

 

qual o filme
que não passou
na minha infância
             que não vi?

 

em cada instância que vivi
contém cenas cinematográficas
paixão atávica - pedra dourada
  ainda te sinto fulinaíma agora

 

não me completo
sem essas imagens
que carrego impregnadas
                     nas entranhas
por onde quer que vim

por onde quer que eu vá

 

levo-te cacomanga
como um moleque
que ainda pula cercas
para roubar todas as frutas

que um dia chupei em teu pomar

 

poética 32

braXília
para Nicholas Bher e Noélia Ribeiro

 

como pode ser assim
tão enquadrada
eixo por eixo
quadra a quadra
com as linhas abstratas
na argamassa do concreto

como pode ser também 
                    tão feminina
mesmo não sendo mais menina
       musa assim por tantos anos
na arquitetura se completa
e continua        nunca finda
no imaginário   do poeta

 

 

poética 33

 

olha aqui preste atenção
eu não sou cão
mais inda ladro mordo
mastigo trituro até sangrar

 

vivo entre o deboche
o sarcasmo o escárnio a ironia
balbúrdia              na devoração

 

quando passo em Casemiro de Abreu
me bate no peito uma barra de São João
                                 a prainha o cemitério
                                 o amor o sexo a maresia

 

nessa vertigem onde mora
     as minhas vãs filosofias

 

 

poética 34

 

agora que essa paulista

dorme em minha cama de ferro

mordendo meu calcanhar

com suas unhas de concreto

 

dou um tapa na angélica

ouço tom zé dentro do carro

       tiro um sarro na augusta

 

nesta noite tropicana

em carNAvalha antecipada

para mim o que é que custa

beber da lira paulistana

ou devorar  a paulicea desvairada

?

 

 poética 35

 

não tenho o que dizer 
de quem não  diz
amor uma palavra gasta 

pra ser feliz

preciso        pouco

e que assim seja
        uma cerveja

 

re-ler poeta louco
                      já me basta

 

 poética 36

 

naquele mar de música
toda meta física
pela tarde quântica
comunhão e prece
no sentido oculto
dos teus olhos raros

 

onde o poema tece
em teus seios claros

o amor bem  vindo

à flor da pele lumiar

 

e a correnteza tudo leva

o sal na pele tudo lava

e se a carga pesa

o banho descarrega
na gira de ogum à  beira-mar

 

 

poética 37

 

fosse o amor não apenas

essa faca de dois gumes

carnavalha  vaga-lumes

beijo de uma deusa morta

não poema em linha reta

apontando a linha torta

 

fosse o amor não apenas

esse  poema/punho  ereto

numa estrada semi/morta

não seria eu  poeta louc0

a destilar baba saliva

onde o absinto é  muito pouco

para a carne crua sempre  viva

que se esconde atrás da porta

 

poética 38

 

enquanto escavo a seiva
entre o vão das suas coxas 
para desfrutar do teu cio
e santificar o nosso  ócio

a selva amazônica perde 
mais 200 mil hectares de mata virgem
para as motoserras assassinas
desse venal agro-negócio

 

 

poética 39

 

a metafísica da metáfora
está entre dois corpos 
que se tocam na distância 

 

e vão ficando

como num encontro corpo a corpo
mesmo num mesmo lugar 
os dois corpos não estando

 

Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimicamente.blogspot.com 

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