Jura secreta 80
as orquídeas ainda são azuis
girassóis relâmpagos na chuva
na surpresa dentro a tempestade
dessa manhã que finda
pimenta tua boca em chamas
incendeia meus lençóis profana
essa linguagem como arco-íris
como fosse
pulsação que arde
nas entranhas dessa luz de fogo
nos meus dentes mastigando a tarde
Jura secreta 81
rasguei as velas
que teci em tempestades
rompi as noites
em alto mar de maresias
pensei teu corpo
pra amenizar tanta saudade
e vi teus olhos em cada vela que tecia
Jura secreta 82
perguntei ao Herbert
como vão as coisas
pelas bandas das Minas
não as Gerais
mas as que moram no Cais
da lapa ou do porto
as que fazem direito ou torto
as que tem as costas
em linhas curvas
e atravessam o arco-íris
das formas que nem sei
as que tem um belo horizonte
pelas bandas de São João Del Rey
Jura
secreta 83
mordi a carne da maçã
na língua o gosto era o batom
que ela usa nos mamilos
a carne da fruta é vermelha
branca é a minha Vênus de Milos
grafita pela pele pelos poros
como plumas
nas linhas dos lençóis de linho
transpira o amor em desalinho
rasgando toda blusa de lã
da minha musa de Vênus
quando transborda nossa cama de manhã
Jura secreta
84
diante o mar
o que pensar
a não ser o infinito
o grito das baleias
o silêncio dos peixes
a nossa fome disseminada
em cada um deles
os corais os abissais os ancestrais
os minerais os barcos atracados no cais
e o quanto somos finitos
diante o mar
o que pensar
a não ser como ela mexe comigo
aqui agora beliscando meu umbigo
em qualquer lugar que eu esteja
com esse copo de cerveja
diante o mar
o que pensar
a não ser os pés na areia
e quem sabe uma seria
me leve a mergulhar
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