segunda-feira, 27 de setembro de 2021

poéticas

 


 santíssima trindade

 

brincando de zeus e vênus
plantei uma conchinha do mar

no teu umbigo
- mora comigo - o amor nunca é de menos
transcende o sol  - e sua luz 
atravessa o litoral da santa cruz

 

afrodite me atirou na tempestade
quando subi a pedra do arpoador
para o salto no abismo
a flor de cactos feriu meus olhos 
ali sangrei – matei a morte 
santíssima trindade me deu o norte
para ressus citar de novo aqui.


 sarcasmo

 

o olho clínico não responde 
fechou o livro na vigésima
sétima página

eu fico sem saber o que pensa
da minha crença no naturalismo
das coisas que ainda não tem nome 

se a fome é meta física
ou a meta é sobrenatural

se tesão é força quântica

reação química ou apenas
a parte mais intensa
de uma transa casual

 

 subversãopoética

 

duvido do poeta
que nunca amolou a língua
afiou a faca
atirou a pedra
saltou da ponte
para o outro lado da linguagem

 

duvidodo poeta
que nunca escreveu sagaranagem
explodiu a fala
saltou para dentro do abismo
de qualquer palavra
no poço fundo da voragem

 

duvido do poeta
que nunca pensou fulinaimagem
não sabe o que é  drummundo
nem mergulhou mais  fundo
em algum corpopoema
nunca quebrou a meta

na carne da metáfora

 

duvido do poeta
que nunca arrombou a porta
nem assaltou janela
quem não entortou a linha reta

não sabe quando beta  alpha
não sabe quando alpha  beta

terra/mãe

 

agora que pairas sobre o tempo
quando o tempo ainda é tempo
ou quando invento no meu corpo
este teu tempo de existir
e re-invento o que ainda não existe

ou quando o tempo já se foi
sem sequer se existisse
ou se não visses tudo em ti
se já passou

 

agora mãe
é quando terra ainda me lembro
de algum tempo
na ferrugem que ficou
roendo os ossos dos meus dedos
não tenhas medo
de dizer que ainda é cedo
se alguma lágrima
sai do tempo que brotou


tempestade/temporais

 eu sou avesso

atravesso a cidade

com o que me interessa

as vezes sou sossego

outras vezes tenho pressa

 

não procuro o que não quero

me abstenho no que faço

me abstrato quando posso

me concreto em cada passo

 

o compasso é argamassa

o absinto quando traço

uma linha nunca reta

da palavra em descompasso

 

se sou torto não importa

em cada porta risco um ponto

pra revelar os meus destroços

no alfabeto do desterro

a carnadura dos meus ossos



Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimicamente.blogspot.com

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