segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Juras Secretas - 45 46 47 48 49

 


                                Jura Secreta 45 

fulinaimagem

1

 por enquanto 

vou te amar assim em segredo 
como se o sagrado fosse 
o maior dos pecados originais 

e minha língua fosse 
só furor dos Canibais 

e essa lua mansa fosse faca 
a afiar os versos que inda não fiz 
e as brigas de amor que nunca quis 

mesmo quando o projeto 
aponta outra direção embaixo do nariz 
e é mais concreto 
que a argamassa do abstrato 

por enquanto vou te amar assim 
admirando teu retrato 
enquanto penso minha idade 
e o que trago da cidade 
embaixo as solas dos sapatos 

2

o que trago 
embaixo as solas dos sapatos é fato 
bagana acesa 
sobra  do cigarro é sarro 

dentro do carro

ainda ouço Jimmi Hendrix 
quando quero 
dancei bolero

 sampleAndo rock and roll 

prá colher lírios 
há que se por o pé na lama 
a seda pura foto-síntese do papel 

tem Flor de Lótus nos bordéis Copacabana 
procuro um mix da guitarra de Santanna 
com os espinhos da Rosa de Noel 

 

 Jura Secreta 46 

bolero blue 

beber desse conhac em tua boca 
para matar a febre

 nas entranhas entre/dentes 

indecente é uma forma que te como 
bebo ou calo 
e se não falo quando quero 
na balada ou no bolero 
não é por falta de desejo 

é que a fome desse beijo 
furta outra qualquer palavra presa 
como caça indefesa 
dentro da carne que não sai 

 

 

 

Jura Secreta 47 

a face oculta da maçã 
duas partes que se abrem pêssego 

campo de girassóis teus pelos 
alvoroçados sob o sol de Amsterdã 

enquanto isso 
em teus mamilos penso 
o que ainda não comi desta maçã 

 

 Jura Secreta 48 


não sou iluminista nem pretender 
eu quero o cravo e a rosa 
cumer o verso e a prosa 
devorar a lírica a métrica 
a carne da musa 
seja branca negra amarela 
vermelha verde ou cafuza 

eu sou do mato 
curupira carrapato 
sou da febre sou dos ossos 
sou da Lira do Delírio 
São Virgílio é o meu sócio 

Pernambuco Amaralina 
vida breve ou sempre vida/severina 
sendo mulher ou só menina 
que sendo santa prostituta 
ou cafetina devorar é minha sina 
e profanar é o meu negócio 

 

 Jura Secreta 49

para Márcio Vaccari 

te procurei na Ipiranga 
não te encontrei na Tiradentes 
nas tuas tralhas tuas trilhas 
nos trilhos tortos do Braz 
fotografei os destroços 
na íris do satanás 

a cara triste da Mooca 
a vaca morta no trem 
beleza no caos: urbana 
beleza é isso também 

meu bem ainda mora distante 
deste bordel carNAvalho 
a droga a erva o bagulho 
Tietê um tonto espantalho


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