quinta-feira, 30 de setembro de 2021

eu quero mesmo a carNAvalha

 


                          olho gótico TVendo

 

a cidade se concreta
a cidade se abstrata
o poeta então retrata

 

com um olho em quem te ama
       o outro em quem mal trata

 

brazílica

para Lília Diniz

 

goiáis cerrado bordado
vestido de coralina
as vezes me deixa encantado
outras vezes me alucina
me transforma em leopardo
nas garras dessa felina

 

piqui fruto do mato
olho de boi visgo de jaca
jaraguájaquatirica
ceilândia olho de vaca
taguatinga em meu retrato
onça em mim significa

 

sabor de carne mordida
lambida até o caroço
na boca da bia morena
planaltina ou plano piloto 
que mora na carne/poema
das minas do lago norte 

 

na flor medula no osso
sem alarde euforia
alvorada ou alvoroço

 

o corpo da palavra corpo

 

o seu corpo/poema
pede-me silêncio
ou algazarra?

 

farra
de bocas pernas coxas
línguas e dedos
nos recantos mais profundos
por onde dorme o teu desejo?

 

carícias delicadas
pela nuca
em torno da orelha
lábios deslizando
ao redor do teu umbigo

 

o que o seu corpo/poema
quer viver comigo?

 

o seu corpo/poema
no deserto das delícias
é escorpião ou percevejo?

 

é calmaria
ou tempestade
no alto mar da liberdade
pede-me noite ou claridade
é  só amor ou desejo
e

 implora-me

desesperadamente
os mais selvagens beijos?

 

fulinaimânica

 

a parede
é arame farpado
a carne presa
não é cavalo alado
nem asa
de anjo su-realista

 

a casa
sangra e angra
era mar azul
sob céus de chumbo
mais ou menos 
concretista

 

dobraduras de papel
não são miragens
os dedos ágeis
modelavam sombras

angra dentro da bomba
na usina nuclear


eu quero mais a carNAvalha

 

me encanta mais teus olhos
que o plano piloto de brasília
o palácio do planalto o alvorada

me encanta mais

as mãos da namorada
que a bandeira do brasil
o céu de anil a tropicalha

quero muito mais a carNAvalha
que a palavra açucarada
quero a palavra sal

o suor da carne bruta
a flor de lótus o cio da fruta
mesmo quando for somente espinho

me encanta os pés que a lata chuta
por entender que a vida é luta
para abrir novos caminhos

me encanta mais na lama o lírio
a flor do lácio
os olhos da minha filha
que o ouro dessas quadrilhas
que habitam esses palácios

 

antes que se assuste

com o mínimo reajuste

nas contas do teu salário

te digo nobre operário

 

3 podres poderes prestam serviços

a banqueiros empresários salafrários

de forma vil cruel - injusta

defendem sempre a própria causa

como fosse justa causa

como fosse causa justa




Artur Gomes

FULINAIMAGENS

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quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Poéticas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11


                                          poéticas secretas

 

poética 1

para carolina barbato

 

tua voz ecoa

marulha um mar

de um outro cais

e vens em ondas

solos de cristais

acordando algas

cavalos marinhos

peixes abissais

 

rouca  elétrica

essa garganta lírica

de vocais intensos

quando teu ser eu penso

como  um som atávico

de milhões de Eras

nas línguas  da história

que os meus ouvidos híbridos

ainda ouvem  na memória

 

 poética 2

 o meu amor é um relâmpago

um coice nas trovoadas
caldeirão de raios elétricos
em noites de singapura

algumas noites é ana
nas madrugadas é vera
na cama somos bacantes
mil giga bytes um tera 
muito mais que tri amantes 
no plug me acelera

arranca do chão os meus pés
me lança na atmosfera 
ela - a louca de espanha
medusa da inglaterra
meu corpo tua quimera 

enterra suas sete cabeças
enquanto me diz - espera 
me morde me lambe - me lanha
com suas unhas de Hera

 

 

poética 3

 

fosse alana 
clara clarice ana 
angélica isadora nathalia beatriz 
a voz calada na fala 
em tudo que não me disse
em tudo o que não me quis

 

fossem girassóis nos cabelos
o vinho num tal chafariz 
suor escorrendo em teus pelos
na flor que van gog me diz
teus olhos cravados no espelho
o poema que ainda não fiz

 

 

poética 4

 

cavalga cavala

com teu dorso no horizonte

ventania

 

as crinas soltas ao tempo

por onde voas cosmogônica

por onde velas calmaria

pássara de 7 patas

pisa teu corpo no vento

nas metáforas dalquimia

 

vênus eros na estrada

a velocidade do fogo

vestida de nua in/plumas

felina aranha nas pedras

com suas entranhas de mar

com tuas línguas de raio

por essas tarde desmaio

flor -  em teus cios plantar

 

poética 5

 

a
solidão extravasa 
o silêncio 
em altas doses de tensão
quando me calo
ou falo 
entre sílabas
nas entre linhas
do poema 
no teatro
ou no cinema 

palavra/som
palavra/gesto 
e o resto da metáfora
na mínima pausa

quando só
me deito em folhas
de papel para escrever

o que agora re-invento

assim esc(r)avo
e assim escrevo
com o de dentro
e o de fora

com o de fora

engenho  dentro

 

 

poética 6

 

teus  olhos

velam mistérios

teus olhos

guardam segredos

um mar de verde/amarelo

 

azul de um tempo abstrato

tempo de chumbo tenho medo

branco na íris retina

teu agro negócio asiático

teus olhos

serpentes da china

assassinos daquela menina

com teu veneno enigmático

 

 

poética 7

 

enquanto você pensa intensifico na voragem a vertigem que me dá quando você não diz o fio esticado entre um espaço e outro do corpo na distância geográfica me faz pensar a estrada que me levará até onde ainda quero estar  enquanto você pensa deliro piro desfaço qualquer sentido de razão que ainda poderia existir em alguma sã consciência já pensei algumas vezes um projeto de psicanálise popular – um divã em cada esquina – pode me chamar de louco maluco pirado Clarice me ensinou a não ter limites de estados ultrapassar fronteiras da insensatez e deixar a razão para os sensatos

 

 

poética 8

 

o que isadora me diz

quando musa em meu poema

apenas lê em silêncio muda

 

ou se transnuda em sua casa

e  devora os preponemas

 

como um pássaro cria asas

e sobrevoa minha carne

no  litoral de ipanema

 

 

poética 9

 

no silêncio do quarto
beijo tua boca ainda suja
do vinho que sobrou
depois da trama

o relógio na parede marca
a hora que entramos

na cama do hotel
só cabem nossos corpos
dentro do poema 

afrodite ainda tonta
sai da  trama e segue pro cinema

 

poética 10

 

nem todo segredo é secreto
nem todo segredo é guardado

o corpo mesmo dentro dos panos
no espelho é revelado 

 amor mesmo quando profano
tem muito mais de sagrado

 

poética 11

 

quanto mais me fragmento
muito mais me multiplico
nos múltiplos sentidos 
para alcançar-te pluma plena
no corpo da metáfora
onde meu corpo  é ágora 
nu  teu colo preso
toda carne queima em brasa
no nosso  poema aceso

 

Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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poéticas 12 13 14 15 16 17 18 19

 


poética 12

 

o poeta enquanto coisa
desliga as luzes do quarto
deita no chão da sala

na fala dos seus guardados

a musa  pelos telhados
voa  em algum balão
como fogos de artifícios

em versos de lua cheia
em cordéis  de São João

 

 

poética 13

 

o que tem essa mulher que me delira
o que tem essa mulher que me deleita
o que tem essa mulher que me provoca
o que tem essa mulher que me estreita
o que tem essa mulher que me espreita

o que tem essa mulher que me transporta
leoa na selva que me caça
ou uma grande mulher quando me toca

 

poética 14

 

tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho

sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos 
quantas vezes eros
eletrizou os nossos dedos?

 

poética 15

 

antítese/antígona 
ou seja lá que nome for 
ou o que quer que seja

 

o preto no azul
o azul no preto

hipotenusa no cateto
cateto na hipotenusa

e os dedos da minha musa
sa(n)grado entre  meus dedos

 

poética 16

 

clarice

em tudo que ainda não disse
em tudo o que ainda disser
nas páginas de um livro branco
quando  come um  chocolate

ou livro que ela quiser

 

quem sabe vento de maio

no ímã do para-raio
flores do mal desfolhasse
nas pétalas do bem-me-quer
no carnaval  quarta-feira
clarice a porta/bandeira
do mestre/sala federico baudelaire

 

 

poética 17

 

a chuva ácida desce entre os relâmpagos 
rasteja um verme sobre o chão de fósseis
os faróis do caos me anunciando tempos
onde os templos corroídos se desabam
sob os céus cinzentos barcos movimentos
não encontram cais nesse mar de Eras
para o nunca mais

 

poética 18

para jiddu saldanha

e tchello d´barros

 

o gumes da minha faca
ainda estão  a bem afiados
quando furam sangra
rasgam o pano

          não é fake nem funk
                   é punk koreano

 

poética 19

 

eu sou a língua da faca
eu sou os gumes da pedra

eu sou o filho da puta

iansã é quem me lava
oxossi é quem me leva
ogum é quem me manda
oxum é quem me guarda

iemanjá que me resguarda
xangô é quem me guia
sou o diabo giramundo
por justiça e poesia

 

Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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segunda-feira, 27 de setembro de 2021

sagaranicamente

 


                                             Poética 20

 

sagaranicamente
eu te provoco
toco teu corpo 
com meus dedos 
mordo tua carne
com meus dentes

 

sagarinicamente
com meus olhos de lince 
poeta é o quanto  devoro 
e oro para São Jorge 
em seu cavalo andaluz 

enquanto na vitrola rola um reggae
nos lençóis da cama rasgo um blues

 

poética 21

 

ela me espora explora o corpo nu agora e sempre lambe a pele das palavras lavras do meu ser em pelo em arcozelo vi teu olho azul de mar oceano entrando gasômetro
cais do porto no meu corpo dentro todo barco em movimento o  fato que descortina
a sina de amar-te em parte pela arte de saber-te musa que me usa em febre pele músculos pela noite nossa o que quer que eu possa quando o corpo clama toda água ou sangue pelo sal do mangue  mesmo em santa ceia quando a carne chama tudo está na veia

 

poética 22

 

não que eu não queira o que pensa
do que  falo - no tempo da memória
agora o que me chegou veio no cosmo
                  micro processador de vento
                  creio - não invento

 

agora o que me fala no meu diafragma
        o magma desse solo tem fermento
    não como do engenho da rainha 
nem piso em outro solo nesse chão 
         na roda do tempo - cata-vento 
o trigo da farinha ainda é massa pro  meu pão

 

 

poética 23

 

   vi  seu coelho no colo

escrevi este poema solo

comendo uma tarde de música

meu olho em teus lábios na lírica

     a língua no paladar dédala um

 

        bebi dois copos de rum

   falamos de deuses e mares

em códigos e signos estelares

               em verdes folhas de oxossi

entregue-me aos desígnios de ogum

 

poética 24

para Lucia Muniz de Sousa

 

naquela manhã de sol em         ubatuba
lambi o ácido que caiu depois da chuva

cheirei resíduos da resina  em caraguá

e a toxina que entranhou naquela uva
caiu da lágrima que bebi do teu olhar

 

poética 25
para Salgado Maranhão

 

a cor da tua palavra me conforta
porta que se abre pra beleza absoluta
a vida que tivemos na matéria bruta
a sorte de nascer dentro do norte
   na   felina selvageria da pantera

 

o sal que temperou as nossas eras

na pele do  tempero ruptura em cada corte

e ao mesmo tempo é voz que predestina
que o  poeta  não vai morrer antes da morte

 

 

poética 26

 

viajo

para muito além do  corpo
onde habito no buraco

            mais pro  fundo 
dos sentidos   concreto

no abstrato  um samurai
onde o concreto nem de longe 
significa o quântico
             do amor que ainda trai

 

 

 

poética 27
para Ronaldo Werneck

 

foto grafias
foto gramas
pomba rio
pomba minas
rio prece
rio drama
minas tomba

esquadro poema pátrio
partido país penetrado
por quem descobriu a pólvora
pavio explodindo  chamas

paiol nas colchas das camas

de um país esfarrapado

 

 

 

poética 28

funk dance funk

para Sebastião Nunes

 

a noite inteira invento Joplin na fagulha
jorrando Cocker na fornalha
funkrEreção fel fala
Fábio parada de Lucas é logo ali
trilhando os trilhos centrais do braZil.

 

rajadas de sons cortando os ínfimos
poemas sonoros foram feitos para os íntimos
conkretude versus conkrEreção
relâmpagos no coice do coração.

 

quando ela canta Eleonora de Lennon
lilibay sequestra a banda no castelo de areia
quando ela toca o esqueleto de lorca
salta do som em movimento enquanto houver
e federika ensaia o passo que aprendeu com                     mallarmè

 

punkrEreção pancada 
onde estão nossos negrumes?
nunkrEreçãonegróide nada.

 

descubro o irado Tião Nunes
para o banquete desta zorra
e vou buscar em madureira
a Fina Flor do Pau Pereira.

 

antes que barro vire borra
antes que festa vire forra
antes que marte vire morra
antes que esperma vire porra,

ó baby a vida é gume
ó mather a vida é lume
ó lady a vida é life!

 

 

poética 29

 

aqui  fisiologia não rola

 

nem coca 
nem cola 
nem bala 

nem bola

 

não ponho mordaça na escola
nem coca cola na pia

não vivo pedindo esmola

não vivo de fantasia

 

fisiologia aqui não cola

o que rola aqui é poesia




Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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Live em homenagem a Antônio Cícero

No próximo dia 23 às 16:hs à convite da minha amiga  Renata Barcellos BarcellArtes  estaremos nessa live em homenagem a memória de  Antônio ...