te amo
e amor não tem nome
pele ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos
mas não tenha medo
pode doer pode sangrar
e ferir fundo
mas é razão de estar no mundo
nem que seja por segundo
por um beijo mesmo breve
porque te amo
no mar no sal no sol na neve
Artur Gomes
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a tarde arde como gengibre na carne da boca faz tempo não pedalo pelo litoral com a língua alvoroçada na espuma das marés em guaxindiba sempre encontro motivo para os dentes lábios e dedos carne de caranguejo no meio do beijo tem uma mulher de Itaocara passeando por aqui saudades da minha amiga de Recife e da sua filha em Rio das Ostras onde vaza sob meus pés o poema inacabado agora me vens de Salvador todo desejo toda fúria incontrolável como cavalo selvagem que se desprendeu da cela.
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento
o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
Artur Gomes
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beber dessa tua língua
o líquido da maresia
o suor do mar da linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com 10 garrafas de vinho
a criatura circula
com seus olhos de fogo
no caldeirão dos corpos
despidos de preconceitos
na transpiração das almas
aos olhos de Wermmer o amor é natural
como a menina dos brincos de pérola
na pétala dos moinhos de vento
anjos e demônios
nus em pelo
por quantas noites mais
serás meu pesadelo?
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento
o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
na quebra mar da sétima onda
para mergulhá-la
corpo inteiro
se serei segundo ou primeiro
que me importa
se quero sempre aberta tua porta
para as novas descobertas
de dois corpos nus
Artur Gomes
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metáfora 1
suspenso no ar
às vezes penso
se devo pensar tanto
como uma poema de Mayakovisk
ela um dia virá ao meu encontro
e ressuscitará o poema que ontem não nasceu
a vida é só flores ela me disse
clarice em cada coisa
tem o instante em que ela é
às vezes também penso
ela não virá
aí vou para praça jogar milho aos pombos
ao jardim zoológico dar comida aos patos
os meus sapatos já conhecem os anos de espera
na última primavera os lírios não nasceram
e as rosas eram só espinhos
com minha língua na faca cortei a fala
ainda na garganta
e fui pra sala afiar o taco
ela não sabe que o vinho que guardei pra ela
é de uma safra especial de Bacco
procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por um amor qualquer
de Almada vou de atravessar o Tejo
barco à vela Portugal afora
em Lisboa vou compor um fado
e cantar no Porto feito um blues
rasgado de amor pela senhora
que me espera em paz
e todo vinho que eu beber agora
será como beijo que eu guardei inteiro
como um marinheiro que retorna ao cais
eu te desejo flores
lírios brancos margaridas
girassóis
rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema
eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro
teu perfume
teu sabor, teu suor
tua doçura
e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos
eu te desejo e posso
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura
Jura secreta 18
te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto
barcos navios no teu corpo
peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas íntimas que vestias
sobre os teus pêlos ficção
todos os laços dos tecidos
e aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
e o sabor da tua língua
e o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes
e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa
Artur Gomes
em todas minhas partes
concretas abstratas
o amor sempre retrata
todo espelho que vivi
poÉtika 1
a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica
tudo o que quero conhecer:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero
a pele em flor a flor da pele
a palavra dândi em corpo nua
a língua em fogo a língua crua
a língua nova a língua lua
fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem
mar
esse mar que eu tanto quero
se não vem me desespero
esse mar me faz suspenso
esse mar que as vezes penso
e não sei onde vai dar
nesse mar onde mergulho
esse mar me faz barulho
nesse mar tanto silêncio
esse mar que as vezes tenso
e não sei se vai passar
fulinaímica
não sei se escrevo tanto
não sei se escrevo tenso
um fio elétrico suspenso
com tanta coisa no Ar
não sei se olho em teu olho
pra encontrar a entrada
da porta da tua casa
onde a palavra estiver
não sei se pinto um Van Gog
ou se escrevo um Baudelaire
Mar que as vezes vem
mar que as vezes vai
Mar quando vem
me entra e fica
e quando vai
de dentro de mim não sai
boi morto
para Martinho Santafé
e Manuel Bandeira in Memória
a lua elétrica passeia
sobre os fios de cabelos
da minha cabeça
e ante que me esqueça te digo:
- um pássaro bêbado voa
à procura do boi morto
no pasto deserto
a fonte radioativa - agrotóxica
devasta o pouco que restou
da ácida tempestade.
lucidez
o mar se foi
como um boi solitário
na pastagem
olho a paisagem em frente
só silêncio
ouço apenas a voz do mar ao longe
me dizendo: Adeus
e o que havia em mim enlouqueceu
jura secreta 140
para o Mar que mora em mim
o enigma não está propriamente
na meta física da metáfora
mar de carne e osso
se eu não falasse ou não dissesse
esse relógio trágico
com seus ponteiros mágicos
arrastando segundo por segundo
tudo o que não passa tudo o que não cessa
o fluxo em tua boca de vênus - minhas unhas
só o céu é testemunha
desse instante único
em que passeio em tua pele
como uma flor de lótus
flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor
ou faca fosse mar de tanta espuma
com minha língua de espera
vou te mergulhar
tenho apenas
esse punhal de prata
e a lua já não é mais cheia
a poesia sempre na veia
e aquele beijo guardado
que ainda não foi roubado
na noite da santa ceia
Baião de Dois
AO ARTUR(Artur Gomes) COM CARINHO.
Meu caro Artur, Artur Gomes. Não foi possível comparecer para te abraçar conforme era o meu desejo e o seu também. Mas fiquei com você o dia todo em meu pensamento. Relembrei sua trajetória de lutas e conquistas. Relembrei o carinho e admiração que meu pai tinha por você desde o Jornal de Campos e Um Instante No Meu Cérebro(aliás, Dr. Renato Aquino, ontem, ao encontrar-se comigo, pediu-me que desse um abraço por ele também, abraço carregado de admiração deste os tempos da Escola Técnica Federal...).
Nossos encontros nos bons tempos dos bares da vida, da poesia rasgada, do violão solidário parceiro entre primas e bordões...Lembrei-me de sua presença forte e marcante com sua poesia sensual erotizando e deixando vir à flor da pele e entrando pelos poros e eriçando os pelos do tecido social conservador e dos costumes conservadores e as vezes hipócritas da colonial moral da planície, ó libidinoso fauno...
No teatro das minhas lembranças, te vi nos palcos com seu atrevimento poético e sua figura -entre apolínea e dionisíaca - dominando a cena ao dizer sobre sobre o doce mel do prazer da carne, o suave cheiro do açúcar dos nossos doces, e como um guerreiro goitacá zangado, apontando a flecha para os exploradores do povo, e denunciando o amargo sabor dos desgovernos de nossas elites dirigentes...e isso com a coragem dos nossos quilombolas -que foram tantos- porque vivíamos em pleno período da ditadura militar e civil-empresarial em nosso país! Também vieram amenidades de nossos papos descontraídos sobre mulheres, música, cachaça e outras cositas mais, que ninguém é de ferro(desculpe o momento de erudição, mas já dizia Nietzsche "a arte existe para que a realidade não nos destrua").
Também desfilaram pelos campos do pensamento nossos encontros nos campos de futebol,eu do meu jeito, e você com jogadas refinadas de quem foi moleque jogando pelada nos campinhos e terrenos baldios que outrora existiam por toda parte, não é mesmo? Há quem jure ter visto visto você falando para a bola: "Vem, Poema número II"...
E foi então que apareceu ao Professor e atento historiador da cultura campista, entre o ofício e o deslavado amor à Terra, o Artur conquistador de um belo espaço no cenário cultural do país com um reconhecimento de muitos aplausos pelos diversos cantos e antologias atestando sua presença consagrada, embora você nem ligue pra isso e muitos conterrâneos infelizmente nem deram conta disso...e você continua andando pra baixo e pra cima pelas ruas de sua cidade esbanjando o vigor dos sexogenários ...como também o sou. E o que dizer de suas músicas, belas parcerias e instigantes participações e vitórias No Tempo dos Festivais?
E agora, como é lindo ver o meu filho Helinho estar atento ao seu trabalho e me dizer: Papai, admiro muito a arte, o talento do Artur!
Viu, Gato Velho, tá ficando que nem vinho bom,hein? Passando de geração em geração. E tenho certeza de que assim permanecerá na alma de nosso povo por muitas e muitas gerações: isso é o que acontece com quem escreve sua biografia no Bronze da História!
Além do abraço forte, tipo abraço de Homem da Baixada - que aperta forte em cima mas não deixa que se toquem as partes "de baixo"-, era mais ou menos isso que eu queria te falar. Taí o meu abraço e o meu carinho por você. Em 29 de agosto de 2015.
Helinho Coelho
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