Cântico dos Cânticos Para Flauta e Violão
oferta:
saibam quantos este meus versos virem
que te amo
do amor maior
que possível for
canção e calendário
sol de montanhas
sol esquivo de montanhas
felicidade
teu nome é
Maria Antonieta D´Alkmin
no fundo do poço
no cimo do monte
no poço sem fundo
na ponte quebrada
no rego da fonte
na ponta da lança
no monte profundo
nevada
entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d´Alkmin
felicidade forjada nas trevas
entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d´Alkmin
não quero mais as moreninhas de Macedo
não quero mais as namoradas
do senhor poeta
Alberto d´Oliveira
quero você
não quero mais
crucificadas em meus cabelos
quero você
não quero mais
a inglesa Elena
não quero mais
a irmã na Nena
não quero mais
a bela Elena
Anabela
Ana Bolena
quero você
toma conta do céu
toma conta da terra
toma conta do mar
toma conta de mim
Maria Antonieta d´Alkmin
e se ele vier
defenderei
e se ela vier
defenderei
e se eles vierem
defenderei
e se elas vieram todas
numa guirlanda de flechas
defenderei
defenderei
defenderei
cais da minha vida
partida sete vezes
cais da minha vida quebrada
nas prisões
suada nas ruas
modelada
na aurora indecisa dos hospitais
bonançosa bonança
convite
escuta este verso
que eu fiz para você
para que todos saibam
que eu quero você
imemorial
gesto de pudor de minha mãe
estrela de abas abertas
não sei quando começou em mim
em que idade
em que eternidade
em que revolução solar
do claustro materno
eu te trazia no colo
Maria Antonieta d´Alkmin
te levei solitário
nos ergástulos vigilantes da ordem intraduzível
nos trens de subúrbio
nas casas alugadas
nos quartos pobres
e nas fugas
cais da minha vida errada
certeza de corsário
porto esperado
coral caído
do oceano
nas mãos vazias
das plantas fumegantes
mulher vinda da china
para mim
vestida de suplícios
nos duros dorsos da amargura
para mim
Maria Antonieta d´Alkmin
teus gestos saiam dos borralhos incompreendidos
que tua boca ansiosa
de criança repetia
sem saber
teus passos subiam
das barrocas desesperadas
do desamor
trazia nas mãos
alguns livros de estudante
e os olhos finais da minha mãe
alerta
lá vem o lança-chamas
pega a garrafa de gasolina
atira
eles querem matar todo amor
corromper o pólo
estancar a sede que eu tenho de outro ser
vem de flanco, de lado
por cima, por trás
atira
atira
resiste
defende
de pé
de pé
de pé
o futuro será de toda humanidade
fabulário familiar
se eu perdesse a vida
no mar
não podia hoje
te ofertar
os nevoeiros, as forjas, os Baependis
acalanto
acuado pelos moços de forcado
flibusteiro
te descobri
muitas vezes pensei que a felicidade sentasse à minha mesa
que me fosse dada no locutório dos confessionários
na hipnose das bestas feras
no salto-mortal das rodas gigantes
ela vinha intacta, silenciosa
nas bandas de música
que te anunciaram para mim
Maria Antonieta d´Alkmin
quando a luta sangrava
nas feridas que sangrei
com alfinete na cabeça te deixei
adormecida
no bosque
te embalei
agora te acordei
relógio
as coisas são
as coisas vêm
as coisas vão
as coisas
vão e vem
não em vão
as horas
vão e vem
não em vão
compromisso
comprarei
o pincel
do Douanier
para te pintar
levo
pro nosso lar
o piano periquito
e o reader ´s digest
para não tremer
quando morrer
e te deixar
eu quero nunca te deixar
quero ficar
preso ao teu amanhecer
dote
te ensinarei
o segredo onomatopaico do mundo
te apresentarei
Thomas Morus
Federico Garcia Lorca
a sombra dos enforcados
o sangue dos fuzilados
na calçada das cidades inacessíveis
te mostrarei meus cartões-postais
o velho e a criança dos jardins públicos
o tutu de dançarina sobre um táxi
escapados ambos da batalha do Marne
o jacaré andarilho
a amadora de suicídios
a noiva mascarada
a tonta do teatro antigo
a metade da Sulamita
a que o palhaço carregou no carnaval
enfim, as dezessete luas mecânicas
que precederam teu arrebol
marcha
todos virão para o teu cortejo nupcial
a princesa Patoreba
coroada de foguetes
a senhora Dona Sancha
que todos querem ver
o tangolomango
e seus mortos mastigados
nas laboriosas noites processionais
todos comparecerão
o camarada barbudo
o bobo-alegre
o salvado de diversos pavorosos incêndios
o frade mau
o corretor de cemitérios
e onde esciver
o Pinta-Brava
meu irmão
Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé
não quero sombra de cera
nem noite branca de reza
quero o velório pretoriano
de Sócrates
não o bestiário
de Casanova
não quero tochas
não quero vê-las
Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé
o tio da América
a igreja da Aparecida
o duomo de Milão
o trem, a canoa, o avião
Tudo darei às mesas anatômicas
do mastigador de entranhas
himeneu
para teu corpo
construirei o dossel
abrirei a porta submissa
ligarei o rádio
amassarei o pão
black-out
girafas tripulantes
em pára-quedas
a mão do jaburu
roda de mulher que chora
o leão dá trezentos mil rugidos
por minuto
o tigre não não é mais fera
nem borboletas
nem açucenas
a carne apenas
das anêmonas
na espingarda
do peixe espada
trasncontinental ictiossauro
lambe o mar
voa, revoa
a moça encastra
enforca, empala
à espera eterna
do Natal
desventra o ventre donde nasceu
a neutra equipe
dos sem luar
no fundo, fundo
do fundo do mar
da podridão
as sereias
anunciarão as searas
mea culpa, lear
na hora do fantasma
entre corujas
Jocasta soluçou
o palácio de fósforo
múltiplas janelas
desmaiou
- por quê calaste os sinos?
meu filho filho meu
- dei, dei, dei
- onde puseste os reinos e as vitórias?
que estranha serenidade prometias?
- era ururpação, paguei
- passaste fome?
- muitas vezes comi as marés de meu cérebro
encerramento e gran-finale
nada te sucederá
porque inerme deste o teu afeto
no soco do coração
te levarei
nas quatro sacadas fechadas
do coração
deixei de ser o desmemoriado das idades de ouro
o mago anterior a toda cronologia
o refém de Deus
o poeta vestido de folhagem
de cocos e de crânios
Alba
Alfaia
Rosa dos Alkmin
dia e noite do meu peito que farfalha
a teu lado
terei o mapa-múndi
em minhas mãos infantes
quero colher
o fruto crédulo das semeaduras
darei o mundo
a um velho de juba
a seu procurador mongol
e a um amigo meu
com quem pretenderam
encerrar o sol
viveremos
o corsário e o porto
eu para você
você para mim
Maria Antonieta D´Alkmin
para lá da vida imediata
das tripulações de trincheira
que hoje comigo
com meus amigos redivivos
escutam os assombrados
brados de vitória
de Stalingrado
Oswald de Andrade
2025 ano 431 da
degustação do bispo sardinha
Balbúrdia PoÉtica
Federico rasgou a rede
cortou a censura
colocou a dita/dura
na parede
poesia ali na mesa
geleia geral – relâmpagos
faíscas da surpresa
diariamente no blog
https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/
te amo
e amor não tem nome
pele ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos
mas não tenha medo
pode doer pode sangrar
e ferir fundo
mas é razão de estar no mundo
nem que seja por segundo
por um beijo mesmo breve
porque te amo
no mar no sal no sol na neve
Artur Gomes
www.secretasjuras.blogspot.com
a tarde arde como gengibre na carne da boca faz tempo não pedalo pelo litoral com a língua alvoroçada na espuma das marés em guaxindiba sempre encontro motivo para os dentes lábios e dedos carne de caranguejo no meio do beijo tem uma mulher de Itaocara passeando por aqui saudades da minha amiga de Recife e da sua filha em Rio das Ostras onde vaza sob meus pés o poema inacabado agora me vens de Salvador todo desejo toda fúria incontrolável como cavalo selvagem que se desprendeu da cela.
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento
o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
Artur Gomes
www.secretasjuras.blogspot.com
beber dessa tua língua
o líquido da maresia
o suor do mar da linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com 10 garrafas de vinho
a criatura circula
com seus olhos de fogo
no caldeirão dos corpos
despidos de preconceitos
na transpiração das almas
aos olhos de Wermmer o amor é natural
como a menina dos brincos de pérola
na pétala dos moinhos de vento
anjos e demônios
nus em pelo
por quantas noites mais
serás meu pesadelo?
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento
o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
na quebra mar da sétima onda
para mergulhá-la
corpo inteiro
se serei segundo ou primeiro
que me importa
se quero sempre aberta tua porta
para as novas descobertas
de dois corpos nus
Artur Gomes
www.secretasjuras.blogspot.com
metáfora 1
suspenso no ar
às vezes penso
se devo pensar tanto
como uma poema de Mayakovisk
ela um dia virá ao meu encontro
e ressuscitará o poema que ontem não nasceu
a vida é só flores ela me disse
clarice em cada coisa
tem o instante em que ela é
às vezes também penso
ela não virá
aí vou para praça jogar milho aos pombos
ao jardim zoológico dar comida aos patos
os meus sapatos já conhecem os anos de espera
na última primavera os lírios não nasceram
e as rosas eram só espinhos
com minha língua na faca cortei a fala
ainda na garganta
e fui pra sala afiar o taco
ela não sabe que o vinho que guardei pra ela
é de uma safra especial de Bacco
procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por um amor qualquer
de Almada vou de atravessar o Tejo
barco à vela Portugal afora
em Lisboa vou compor um fado
e cantar no Porto feito um blues
rasgado de amor pela senhora
que me espera em paz
e todo vinho que eu beber agora
será como beijo que eu guardei inteiro
como um marinheiro que retorna ao cais
eu te desejo flores
lírios brancos margaridas
girassóis
rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema
eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro
teu perfume
teu sabor, teu suor
tua doçura
e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos
eu te desejo e posso
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura
Jura secreta 18
te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto
barcos navios no teu corpo
peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas íntimas que vestias
sobre os teus pêlos ficção
todos os laços dos tecidos
e aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
e o sabor da tua língua
e o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes
e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa
Artur Gomes
em todas minhas partes
concretas abstratas
o amor sempre retrata
todo espelho que vivi
poÉtika 1
a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica
tudo o que quero conhecer:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero
a pele em flor a flor da pele
a palavra dândi em corpo nua
a língua em fogo a língua crua
a língua nova a língua lua
fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem
mar
esse mar que eu tanto quero
se não vem me desespero
esse mar me faz suspenso
esse mar que as vezes penso
e não sei onde vai dar
nesse mar onde mergulho
esse mar me faz barulho
nesse mar tanto silêncio
esse mar que as vezes tenso
e não sei se vai passar
fulinaímica
não sei se escrevo tanto
não sei se escrevo tenso
um fio elétrico suspenso
com tanta coisa no Ar
não sei se olho em teu olho
pra encontrar a entrada
da porta da tua casa
onde a palavra estiver
não sei se pinto um Van Gog
ou se escrevo um Baudelaire
Mar que as vezes vem
mar que as vezes vai
Mar quando vem
me entra e fica
e quando vai
de dentro de mim não sai
boi morto
para Martinho Santafé
e Manuel Bandeira in Memória
a lua elétrica passeia
sobre os fios de cabelos
da minha cabeça
e ante que me esqueça te digo:
- um pássaro bêbado voa
à procura do boi morto
no pasto deserto
a fonte radioativa - agrotóxica
devasta o pouco que restou
da ácida tempestade.
lucidez
o mar se foi
como um boi solitário
na pastagem
olho a paisagem em frente
só silêncio
ouço apenas a voz do mar ao longe
me dizendo: Adeus
e o que havia em mim enlouqueceu
jura secreta 140
para o Mar que mora em mim
o enigma não está propriamente
na meta física da metáfora
mar de carne e osso
se eu não falasse ou não dissesse
esse relógio trágico
com seus ponteiros mágicos
arrastando segundo por segundo
tudo o que não passa tudo o que não cessa
o fluxo em tua boca de vênus - minhas unhas
só o céu é testemunha
desse instante único
em que passeio em tua pele
como uma flor de lótus
flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor
ou faca fosse mar de tanta espuma
com minha língua de espera
vou te mergulhar
tenho apenas
esse punhal de prata
e a lua já não é mais cheia
a poesia sempre na veia
e aquele beijo guardado
que ainda não foi roubado
na noite da santa ceia
Baião de Dois
AO ARTUR(Artur Gomes) COM CARINHO.
Meu caro Artur, Artur Gomes. Não foi possível comparecer para te abraçar conforme era o meu desejo e o seu também. Mas fiquei com você o dia todo em meu pensamento. Relembrei sua trajetória de lutas e conquistas. Relembrei o carinho e admiração que meu pai tinha por você desde o Jornal de Campos e Um Instante No Meu Cérebro(aliás, Dr. Renato Aquino, ontem, ao encontrar-se comigo, pediu-me que desse um abraço por ele também, abraço carregado de admiração deste os tempos da Escola Técnica Federal...).
Nossos encontros nos bons tempos dos bares da vida, da poesia rasgada, do violão solidário parceiro entre primas e bordões...Lembrei-me de sua presença forte e marcante com sua poesia sensual erotizando e deixando vir à flor da pele e entrando pelos poros e eriçando os pelos do tecido social conservador e dos costumes conservadores e as vezes hipócritas da colonial moral da planície, ó libidinoso fauno...
No teatro das minhas lembranças, te vi nos palcos com seu atrevimento poético e sua figura -entre apolínea e dionisíaca - dominando a cena ao dizer sobre sobre o doce mel do prazer da carne, o suave cheiro do açúcar dos nossos doces, e como um guerreiro goitacá zangado, apontando a flecha para os exploradores do povo, e denunciando o amargo sabor dos desgovernos de nossas elites dirigentes...e isso com a coragem dos nossos quilombolas -que foram tantos- porque vivíamos em pleno período da ditadura militar e civil-empresarial em nosso país! Também vieram amenidades de nossos papos descontraídos sobre mulheres, música, cachaça e outras cositas mais, que ninguém é de ferro(desculpe o momento de erudição, mas já dizia Nietzsche "a arte existe para que a realidade não nos destrua").
Também desfilaram pelos campos do pensamento nossos encontros nos campos de futebol,eu do meu jeito, e você com jogadas refinadas de quem foi moleque jogando pelada nos campinhos e terrenos baldios que outrora existiam por toda parte, não é mesmo? Há quem jure ter visto visto você falando para a bola: "Vem, Poema número II"...
E foi então que apareceu ao Professor e atento historiador da cultura campista, entre o ofício e o deslavado amor à Terra, o Artur conquistador de um belo espaço no cenário cultural do país com um reconhecimento de muitos aplausos pelos diversos cantos e antologias atestando sua presença consagrada, embora você nem ligue pra isso e muitos conterrâneos infelizmente nem deram conta disso...e você continua andando pra baixo e pra cima pelas ruas de sua cidade esbanjando o vigor dos sexogenários ...como também o sou. E o que dizer de suas músicas, belas parcerias e instigantes participações e vitórias No Tempo dos Festivais?
E agora, como é lindo ver o meu filho Helinho estar atento ao seu trabalho e me dizer: Papai, admiro muito a arte, o talento do Artur!
Viu, Gato Velho, tá ficando que nem vinho bom,hein? Passando de geração em geração. E tenho certeza de que assim permanecerá na alma de nosso povo por muitas e muitas gerações: isso é o que acontece com quem escreve sua biografia no Bronze da História!
Além do abraço forte, tipo abraço de Homem da Baixada - que aperta forte em cima mas não deixa que se toquem as partes "de baixo"-, era mais ou menos isso que eu queria te falar. Taí o meu abraço e o meu carinho por você. Em 29 de agosto de 2015.
Helinho Coelho
Dê livros
Dê Lírios
Dê Beijos
era uma vez um mangue
por onde andará Macunaíma
na sua carne no seu sangue
na medula no seu osso
será que ainda existe algum
vestígio de Macunaíma
na veia do teu pescoço?
cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.
Torquato Neto
Clic no link para ver o vídeo
https://www.facebook.com/artur.fulinaima.5/videos/1179896886171727
NÃO HÁ VAGAS
Ferreira Gullar
Clic no link para ver o vídeo
https://www.facebook.com/artur.fulinaima.5/videos/347873690690035
1º de Abril
sob patas
tombavam
homens indefesos.
esperei-te 20 anos
e até hoje
não vieste
à minha porta.
Do livro Suor & Cio – 1985
Pátria A(r )mada – 2019
www.arturgumesfulinaima.blogspot.com
clic no link para ver o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=JVefD4eS2kY
abrigados no templo
perdem tempo com teorias
amargos e santificados
e apontam dedos
aos que não se arrependem de viver
aos que dançam de mãos dadas
com suas loucuras
aos que lambem os dedos
lambuzados com delícias
aos que acreditam em pequenos milagres
vindos do esgoto a céu aberto
aos que tiram o dia para chorar
amam na cama, na mesa ou no chão
aos que gostam do corpo, da pele, do cheiro e do gozo
aos que pulsam sem o prazer das carícias
aos que vivem e vibram com vida solta
livres, generosos e sem cabrestos
aos que se dão conta da sua liberdade
é meio caminho andado
(cuidem-se então
e sejam Mestres para si mesmos)
um dia, mais cedo ou mais tarde
todos chegam ao fim da linha
Poema de Benette Bacellar - 2022
Laura Makabresku Art
certeiros, os projéteis
da janela
da mira
do gatilho
atingem o alvo
calculadas, as balas
na cabeça marcada
na mente visada
na ação inadequada
cumprem a função de calar
não foi apenas o sangue
jorrado na execução
não foi apenas a carne
(negra, para não fugir das estatísticas)
caça abatida no voo, ração
provimento dos sem razão
ali, naquele automóvel
ensanguentado
e
incômodo
foi abatida a utopia
calada uma voz que era de muitos
derrubado o pilar da esperança
executada a possibilidade de redenção
Dalila Teles Veras
No porão
Minha mãe na máquina debruçada
costurava vestidos
e eu, menina, sonhava
Meu avô
do alto dos seus bigodes
parecia parecia sorrir
no seu retrato pintado
por um artista lambe-lambe
A vida corria serena
e eu, menina, sonhava
Hoje
o retrato do meu avô
descansa, inglório
no porão
Dalila Teles Veras
[À janela dos dias
poesia quase toda]
Cântico dos Cânticos Para Flauta e Violão
saibam quantos este meus versos virem
que te amo
do amor maior
que possível for
canção e calendário
sol de montanhas
sol esquivo de montanhas
felicidade
teu nome é
Maria Antonieta D´Alkmin
no fundo do poço
no cimo do monte
no poço sem fundo
na ponte quebrada
no rego da fonte
na ponta da lança
no monte profundo
nevada
entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d´Alkmin
felicidade forjada nas trevas
entre os crimes contra mim
Maria Antonieta d´Alkmin
não quero mais as moreninhas de Macedo
não quero mais as namoradas
do senhor poeta
Alberto d´Oliveira
quero você
não quero mais
crucificadas em meus cabelos
quero você
não quero mais
a inglesa Elena
não quero mais
a irmã na Nena
não quero mais
a bela Elena
Anabela
Ana Bolena
quero você
toma conta do céu
toma conta da terra
toma conta do mar
toma conta de mim
Maria Antonieta d´Alkmin
e se ele vier
defenderei
e se ela vier
defenderei
e se eles vierem
defenderei
e se elas vieram todas
numa guirlanda de flechas
defenderei
defenderei
defenderei
cais da minha vida
partida sete vezes
cais da minha vida quebrada
nas prisões
suada nas ruas
modelada
na aurora indecisa dos hospitais
bonançosa bonança
convite
escuta este verso
que eu fiz para você
para que todos saibam
que eu quero você
imemorial
gesto de pudor de minha mãe
estrela de abas abertas
não sei quando começou em mim
em que idade
em que eternidade
em que revolução solar
do claustro materno
eu te trazia no colo
Maria Antonieta d´Alkmin
te levei solitário
nos ergástulos vigilantes da ordem intraduzível
nos trens de subúrbio
nas casas alugadas
nos quartos pobres
e nas fugas
cais da minha vida errada
certeza de corsário
porto esperado
coral caído
do oceano
nas mãos vazias
das plantas fumegantes
mulher vinda da china
para mim
vestida de suplícios
nos duros dorsos da amargura
para mim
Maria Antonieta d´Alkmin
teus gestos saiam dos borralhos incompreendidos
que tua boca ansiosa
de criança repetia
sem saber
teus passos subiam
das barrocas desesperadas
do desamor
trazia nas mãos
alguns livros de estudante
e os olhos finais da minha mãe
alerta
lá vem o lança-chamas
pega a garrafa de gasolina
atira
eles querem matar todo amor
corromper o pólo
estancar a sede que eu tenho de outro ser
vem de flanco, de lado
por cima, por trás
atira
atira
resiste
defende
de pé
de pé
de pé
o futuro será de toda humanidade
fabulário familiar
se eu perdesse a vida
no mar
não podia hoje
te ofertar
os nevoeiros, as forjas, os Baependis
acalanto
acuado pelos moços de forcado
flibusteiro
te descobri
muitas vezes pensei que a felicidade sentasse à minha mesa
que me fosse dada no locutório dos confessionários
na hipnose das bestas feras
no salto-mortal das rodas gigantes
ela vinha intacta, silenciosa
nas bandas de música
que te anunciaram para mim
Maria Antonieta d´Alkmin
quando a luta sangrava
nas feridas que sangrei
com alfinete na cabeça te deixei
adormecida
no bosque
te embalei
agora te acordei
relógio
as coisas são
as coisas vêm
as coisas vão
as coisas
vão e vem
não em vão
as horas
vão e vem
não em vão
compromisso
comprarei
o pincel
do Douanier
para te pintar
levo
pro nosso lar
o piano periquito
e o reader ´s digest
para não tremer
quando morrer
e te deixar
eu quero nunca te deixar
quero ficar
preso ao teu amanhecer
dote
te ensinarei
o segredo onomatopaico do mundo
te apresentarei
Thomas Morus
Federico Garcia Lorca
a sombra dos enforcados
o sangue dos fuzilados
na calçada das cidades inacessíveis
te mostrarei meus cartões-postais
o velho e a criança dos jardins públicos
o tutu de dançarina sobre um táxi
escapados ambos da batalha do Marne
o jacaré andarilho
a amadora de suicídios
a noiva mascarada
a tonta do teatro antigo
a metade da Sulamita
a que o palhaço carregou no carnaval
enfim, as dezessete luas mecânicas
que precederam teu arrebol
marcha
todos virão para o teu cortejo nupcial
a princesa Patoreba
coroada de foguetes
a senhora Dona Sancha
que todos querem ver
o tangolomango
e seus mortos mastigados
nas laboriosas noites processionais
todos comparecerão
o camarada barbudo
o bobo-alegre
o salvado de diversos pavorosos incêndios
o frade mau
o corretor de cemitérios
e onde esciver
o Pinta-Brava
meu irmão
Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé
não quero sombra de cera
nem noite branca de reza
quero o velório pretoriano
de Sócrates
não o bestiário
de Casanova
não quero tochas
não quero vê-las
Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé
o tio da América
a igreja da Aparecida
o duomo de Milão
o trem, a canoa, o avião
Tudo darei às mesas anatômicas
do mastigador de entranhas
himeneu
para teu corpo
construirei o dossel
abrirei a porta submissa
ligarei o rádio
amassarei o pão
black-out
girafas tripulantes
em pára-quedas
a mão do jaburu
roda de mulher que chora
o leão dá trezentos mil rugidos
por minuto
o tigre não não é mais fera
nem borboletas
nem açucenas
a carne apenas
das anêmonas
na espingarda
do peixe espada
trasncontinental ictiossauro
lambe o mar
voa, revoa
a moça encastra
enforca, empala
à espera eterna
do Natal
desventra o ventre donde nasceu
a neutra equipe
dos sem luar
no fundo, fundo
do fundo do mar
da podridão
as sereias
anunciarão as searas
mea culpa, lear
na hora do fantasma
entre corujas
Jocasta soluçou
o palácio de fósforo
múltiplas janelas
desmaiou
- por quê calaste os sinos?
meu filho filho meu
- dei, dei, dei
- onde puseste os reinos e as vitórias?
que estranha serenidade prometias?
- era ururpação, paguei
- passaste fome?
- muitas vezes comi as marés de meu cérebro
encerramento e gran-finale
nada te sucederá
porque inerme deste o teu afeto
no soco do coração
te levarei
nas quatro sacadas fechadas
do coração
deixei de ser o desmemoriado das idades de ouro
o mago anterior a toda cronologia
o refém de Deus
o poeta vestido de folhagem
de cocos e de crânios
Alba
Alfaia
Rosa dos Alkmin
dia e noite do meu peito que farfalha
a teu lado
terei o mapa-múndi
em minhas mãos infantes
quero colher
o fruto crédulo das semeaduras
darei o mundo
a um velho de juba
a seu procurador mongol
e a um amigo meu
com quem pretenderam
encerrar o sol
viveremos
o corsário e o porto
eu para você
você para mim
Maria Antonieta D´Alkmin
para lá da vida imediata
das tripulações de trincheira
que hoje comigo
com meus amigos redivivos
escutam os assombrados
brados de vitória
de Stalingrado
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