quarta-feira, 27 de agosto de 2025

o poeta enquanto coisa


 

hoje é domingo
de Hera me vingo
com minha sarcástica ironia

fisto-me de Dionísio
nessa festa pras Bacantes

me consagro teu amante
pelos vinhedos de Baco 
no ápice sagrado

da  su-real pornofonia

 

 

entre os lençóis

 

o outubro 
me deixou no tudo nada 
a luz branca sem sono
em nossos corpos de abandono

ela arquitetava uma nesga
entre as frestas da janela
luz do luar nos olhos dela
girassóis em desmantelos
por entre poros entre pelos
minhas unhas tuas costas 
Amsterdã nos teus cabelos 

o que Van Gog me trazia
era branca noite de outono
que amanheceu sem ver o dia 
nossos corpos estavam banhados
de vinho tinto e poesia

 

fonética das cores

 

3 dentadas no pão e a faca suja de manteiga entreguei-me ao desejo de olhar o corpo do poema nu ainda virgem deitado sobre a grama no quintal do casario no cafezal rolava um blues vestido de algodão branca flor entre as sílabas tônicas e a fonética das cores entre o vão das coxas brancas de alfazema sopravam ventos de alecrim

 

poema atávico

 

e se a gente se amasse uma vez só
a tarde ainda arde primavera tanta
nesse outubro quanto
de manhãs tão cinzas

 

nesse momento em Bento Gonçalves
Mauri Menegotto termina
de lapidar mais uma pedra 
tem seus olhos no brilho da escultura

 

confesso tenho andado meio triste
na geografia da distância
esse poema atávico tem

a cor da tua pele
a carne sob os lençóis

 onde meus dedos
ainda não nasceram

 

algum deus

anda me pregando peças
num lance de dados mallarmaicos

comovido
ainda te procuro em palavras aramaicas 
e a pele dos meus olhos anda perdida
em teu vestido

Projeto Arte Cultura

27 de agosto
com muito gosto
fazer setenta e sete
outra coisa me disse
fulinaíma
pra definir o que faço
o traço a cada compasso
pensado sentido vivido
estando inteiro
não par/ti/do
a língua ainda
entre/dentes
a faca
ainda mais afiada
a carNAvalha in/decente
escre/v(l)er
é tudo o que posso
pra desafinar os contentes
desempatar de/repente
o jogo dos reles bandidos
é tudo o que tenho feito
por mais que tenha sofrido
nas unhas dos dedos
nos nervos
na carnadura dos ossos

Artur Gomes

Hoje Balbúrdia PoÉtica especial
no Carioca Bar - Rua Francisca Carvalho de Azevedo, 17
Parque São Caetano - Campos dos Goytacazes-RJ
Espero vocês lá, a partir das 18h

leia mais no blog
Artur Fulinaimagens
https://fulinaimargens.blogspot.com/


A querida Pátria Amada  adormecida

agora acorda em mãos armadas

orientada por  genocida merdavalha

                  vamos cortar tua língua vil

               com  os meus fios de navalha

                esse brasil que come osso

          mora no abismo da mortalha

                     vamos degolar o teu pescoço

                     filho da puta vil canalha 


Pastor de Andrade


domingo, 24 de agosto de 2025

Retalhos Imortais do SerAfim

       Cântico dos Cânticos                               Para Flauta e Violão 

oferta:

 

saibam quantos este meus versos virem

que te amo

do amor maior

que possível for

canção e calendário

sol de montanhas

sol esquivo de montanhas

felicidade

teu nome é

Maria Antonieta D´Alkmin

no fundo do poço

no cimo do monte

no poço sem fundo

na ponte quebrada

no rego da fonte

na ponta da lança

no monte profundo

nevada

entre os crimes contra mim

Maria Antonieta d´Alkmin

felicidade forjada nas trevas

entre os crimes contra mim

Maria Antonieta d´Alkmin

não quero mais as moreninhas de Macedo

não quero mais as namoradas

do senhor poeta

Alberto d´Oliveira

quero você

não quero mais

crucificadas em meus cabelos

quero você

não quero mais

a inglesa Elena

não quero mais

a irmã na Nena

não quero mais

a bela Elena

Anabela

Ana Bolena

quero você

toma conta do céu

toma conta da terra

toma conta do mar

toma conta de mim

Maria Antonieta d´Alkmin

e se ele vier

defenderei

e se ela vier

defenderei

e se eles vierem

defenderei

e se elas vieram todas

numa guirlanda de flechas

defenderei

defenderei

defenderei

cais da minha vida

partida sete vezes

cais da minha vida quebrada

nas prisões

suada nas ruas

modelada

na aurora indecisa dos hospitais

bonançosa bonança

convite

escuta este verso

que eu fiz para você

para que todos saibam

que eu quero você

imemorial

gesto de pudor de minha mãe

estrela de abas abertas

não sei quando começou em mim

em que idade

em que eternidade

em que revolução solar

do claustro materno

eu te trazia no colo

Maria Antonieta d´Alkmin

te levei solitário

nos ergástulos vigilantes da ordem intraduzível

nos trens de subúrbio

nas casas alugadas

nos quartos pobres

e nas fugas

cais da minha vida errada

certeza de corsário

porto esperado

coral caído

do oceano

nas mãos vazias

das plantas fumegantes

mulher vinda da china

para mim

vestida de suplícios

nos duros dorsos da amargura

para mim

Maria Antonieta d´Alkmin

teus gestos saiam dos borralhos incompreendidos

que tua boca ansiosa

de criança repetia

sem saber

teus passos subiam

das barrocas desesperadas

do desamor

trazia nas mãos

alguns livros de estudante

e os olhos finais da minha mãe

alerta

lá vem o lança-chamas

pega a garrafa de gasolina

atira

eles querem matar todo amor

corromper o pólo

estancar a sede que eu tenho de outro ser

vem de flanco, de lado

por cima, por trás

atira

atira

resiste

defende

de pé

de pé

de pé

o futuro será de toda humanidade

fabulário familiar

se eu perdesse a vida

no mar

não podia hoje

te ofertar

os nevoeiros, as forjas, os Baependis

acalanto

acuado pelos moços de forcado

flibusteiro

te descobri

muitas vezes pensei que a felicidade sentasse à minha mesa

que me fosse dada no locutório dos confessionários

na hipnose das bestas feras

no salto-mortal das rodas gigantes

ela vinha intacta, silenciosa

nas bandas de música

que te anunciaram para mim

Maria Antonieta d´Alkmin

quando a luta sangrava

nas feridas que sangrei

com alfinete na cabeça te deixei

adormecida

no bosque

te embalei

agora te acordei

relógio

as coisas são

as coisas vêm

as coisas vão

as coisas

vão e vem

não em vão

as horas

vão e vem

não em vão

compromisso

comprarei

o pincel

do Douanier

para te pintar

levo

pro nosso lar

o piano periquito

e o reader ´s digest

para não tremer

quando morrer

e te deixar

eu quero nunca te deixar

quero ficar

preso ao teu amanhecer

dote

te ensinarei

o segredo onomatopaico do mundo

te apresentarei

Thomas Morus

Federico Garcia Lorca

a sombra dos enforcados

o sangue dos fuzilados

na calçada das cidades inacessíveis

te mostrarei meus cartões-postais

o velho e a criança dos jardins públicos

o tutu de dançarina sobre um táxi

escapados ambos da batalha do Marne

o jacaré andarilho

a amadora de suicídios

a noiva mascarada

a tonta do teatro antigo

a metade da Sulamita

a que o palhaço carregou no carnaval

enfim, as dezessete luas mecânicas

que precederam teu arrebol

marcha

todos virão para o teu cortejo nupcial

a princesa Patoreba

coroada de foguetes

a senhora Dona Sancha

que todos querem ver

o tangolomango

e seus mortos mastigados

nas laboriosas noites processionais

todos comparecerão

o camarada barbudo

o bobo-alegre

o salvado de diversos pavorosos incêndios

o frade mau

o corretor de cemitérios

e onde esciver

o Pinta-Brava

meu irmão

Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé

não quero sombra de cera

nem noite branca de reza

quero o velório pretoriano

de Sócrates

não o bestiário

de Casanova

não quero tochas

não quero vê-las

Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé

o tio da América

a igreja da Aparecida

o duomo de Milão

o trem, a canoa, o avião

Tudo darei às mesas anatômicas

do mastigador de entranhas

himeneu

para teu corpo

construirei o dossel

abrirei a porta submissa

ligarei o rádio

amassarei o pão

black-out

girafas tripulantes

em pára-quedas

a mão do jaburu

roda de mulher que chora

o leão dá trezentos mil rugidos

por minuto

o tigre não não é mais fera

nem borboletas

nem açucenas

a carne apenas

das anêmonas

na espingarda

do peixe espada

trasncontinental ictiossauro

lambe o mar

voa, revoa

a moça encastra

enforca, empala

à espera eterna

do Natal

desventra o ventre donde nasceu

a neutra equipe

dos sem luar

no fundo, fundo

do fundo do mar

da podridão

as sereias

anunciarão as searas

mea culpa, lear

na hora do fantasma

entre corujas

Jocasta soluçou

o palácio de fósforo

múltiplas janelas

desmaiou

- por quê calaste os sinos?

meu filho filho meu

- dei, dei, dei

- onde puseste os reinos e as vitórias?

que estranha serenidade prometias?

- era ururpação, paguei

- passaste fome?

- muitas vezes comi as marés de meu cérebro

encerramento e gran-finale

nada te sucederá

porque inerme deste o teu afeto

no soco do coração

te levarei

nas quatro sacadas fechadas

do coração

deixei de ser o desmemoriado das idades de ouro

o mago anterior a toda cronologia

o refém de Deus

o poeta vestido de folhagem

de cocos e de crânios

Alba

Alfaia

Rosa dos Alkmin

dia e noite do meu peito que farfalha

a teu lado

terei o mapa-múndi

em minhas mãos infantes

quero colher

o fruto crédulo das semeaduras

darei o mundo

a um velho de juba

a seu procurador mongol

e a um amigo meu

com quem pretenderam

encerrar o sol

viveremos

o corsário e o porto

eu para você

você para mim

Maria Antonieta D´Alkmin

para lá da vida imediata

das tripulações de trincheira

que hoje comigo

com meus amigos redivivos

escutam os assombrados

brados de vitória

de Stalingrado

 

 Oswald de Andrade

2025  ano 431 da degustação do bispo sardinha

 

Balbúrdia PoÉtica

 

Federico rasgou a rede

cortou a censura

colocou a dita/dura

                     na parede

 

poesia ali na mesa

geleia geral – relâmpagos

faíscas da surpresa

 

diariamente no blog

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/


     jura secreta 34


te amo
e amor não tem nome
pele ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos

mas não tenha medo
pode doer pode sangrar
e ferir fundo
mas é razão de estar no mundo
nem que seja por segundo
por um beijo mesmo breve
porque te amo
no mar no sal no sol na neve

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com

     a tarde arde como gengibre na carne da boca faz tempo não pedalo pelo litoral com a língua alvoroçada na espuma das marés em guaxindiba sempre encontro motivo para os dentes lábios e dedos carne de caranguejo no meio do beijo tem uma mulher de Itaocara passeando por aqui saudades da minha amiga de Recife e da sua filha em Rio das Ostras onde vaza sob meus pés o poema inacabado agora me vens de Salvador todo desejo toda fúria incontrolável como cavalo selvagem que se desprendeu da cela.


                pele grafia


meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com 


   labirinto


beber dessa tua língua
o líquido da maresia
o suor do mar da linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com 10 garrafas de vinho

a criatura circula
com seus olhos de fogo
no caldeirão dos corpos
despidos de preconceitos
na transpiração das almas

aos olhos de Wermmer o amor é natural
como a menina dos brincos de pérola
na pétala dos moinhos de vento

       anjos e demônios

nus em pelo
por quantas noites mais
serás meu pesadelo?

Artur Gomes
imagem: Jose Cesar Castro


desejo sexo amor paixão

fantasia

aos olhos de Wermmer
tudo é possível crer
até em quem não cria

Federika Lispector
imagem: Jose Cesar Castro

               pele grafia

meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia

ela me espera

na quebra mar da sétima onda
para mergulhá-la
corpo inteiro

se serei segundo ou primeiro
que me importa
se quero sempre aberta tua porta
para as novas descobertas
de dois corpos nus

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com 

no coração dos boatos

metáfora 1

suspenso no ar

às vezes penso

se devo pensar tanto

como uma poema de Mayakovisk

ela um dia virá ao meu encontro

e ressuscitará o poema que ontem não nasceu

a vida é só flores ela me disse

clarice em cada coisa

tem o instante em que ela é

às vezes também penso

ela não virá

aí vou para praça jogar milho aos pombos

ao jardim zoológico dar comida aos patos

os meus sapatos já conhecem os anos de espera

na última primavera os lírios não nasceram

e as rosas eram só espinhos

com minha língua na faca cortei a fala

ainda na garganta

e fui pra sala afiar o taco

ela não sabe que o vinho que guardei pra ela

é de uma safra especial de Bacco

para Gigi Mocidade

procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por um amor qualquer

travessia

de Almada vou de atravessar o Tejo
barco à vela Portugal afora
em Lisboa vou compor um fado
e cantar no Porto feito um blues
rasgado de amor pela senhora
que me espera em paz

e todo vinho que eu beber agora
será como beijo que eu guardei inteiro
como um marinheiro que retorna ao cais

jura secreta 14

eu te desejo flores
lírios brancos margaridas
girassóis
rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema

eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro
teu perfume
teu sabor, teu suor
tua doçura

e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos

eu te desejo e posso
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura

Jura secreta 18

te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto

barcos navios no teu corpo
peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas íntimas que vestias
sobre os teus pêlos ficção

todos os laços dos tecidos
e aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
e o sabor da tua língua
e o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes

e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com

em todas minhas partes
concretas abstratas
o amor sempre retrata
todo espelho que vivi

       poÉtika 1


a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica

tudo o que quero conhecer:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero

a pele em flor a flor da pele
a palavra dândi em corpo nua
a língua em fogo a língua crua
a língua nova a língua lua

fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem

       mar

esse mar que eu tanto quero
se não vem me desespero
esse mar me faz suspenso
esse mar que as vezes penso
e não sei onde vai dar

nesse mar onde mergulho
esse mar me faz barulho
nesse mar tanto silêncio
esse mar que as vezes tenso
e não sei se vai passar

        fulinaímica


não sei se escrevo tanto
não sei se escrevo tenso
um fio elétrico suspenso
com tanta coisa no Ar
não sei se olho em teu olho
pra encontrar a entrada
da porta da tua casa
onde a palavra estiver
não sei se pinto um Van Gog
ou se escrevo um Baudelaire

Mar que as vezes vem
mar que as vezes vai
Mar quando vem
me entra e fica
e quando vai
de dentro de mim não sai

boi morto
para Martinho Santafé

 e Manuel Bandeira in Memória

a lua elétrica passeia
sobre os fios de cabelos
da minha cabeça
e ante que me esqueça te digo:
- um pássaro bêbado voa
à procura do boi morto
no pasto deserto
a fonte radioativa - agrotóxica
devasta o pouco que restou
da ácida tempestade.

      lucidez

o mar se foi
como um boi solitário
na pastagem
olho a paisagem em frente
só silêncio
ouço apenas a voz do mar ao longe
me dizendo: Adeus
e o que havia em mim enlouqueceu

       jura secreta 140

para o Mar que mora em mim


o enigma não está propriamente
na meta física da metáfora
mar de carne e osso
se eu não falasse ou não dissesse
esse relógio trágico
com seus ponteiros mágicos
arrastando segundo por segundo
tudo o que não passa tudo o que não cessa
o fluxo em tua boca de vênus - minhas unhas
só o céu é testemunha
desse instante único
em que passeio em tua pele
como uma flor de lótus
flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor
ou faca fosse mar de tanta espuma
com minha língua de espera
vou te mergulhar

tenho apenas
esse punhal de prata
e a lua já não é mais cheia
a poesia sempre na veia
e aquele beijo guardado
que ainda não foi roubado
na noite da santa ceia



Ontem no Sarau

 Baião de Dois


AO ARTUR(Artur Gomes) COM CARINHO.
Meu caro Artur, Artur Gomes. Não foi possível comparecer para te abraçar conforme era o meu desejo e o seu também. Mas fiquei com você o dia todo em meu pensamento. Relembrei sua trajetória de lutas e conquistas. Relembrei o carinho e admiração que meu pai tinha por você desde o Jornal de Campos e Um Instante No Meu Cérebro(aliás, Dr. Renato Aquino, ontem, ao encontrar-se comigo, pediu-me que desse um abraço por ele também, abraço carregado de admiração deste os tempos da Escola Técnica Federal...).

Nossos encontros nos bons tempos dos bares da vida, da poesia rasgada, do violão solidário parceiro entre primas e bordões...Lembrei-me de sua presença forte e marcante com sua poesia sensual erotizando e deixando vir à flor da pele e entrando pelos poros e eriçando os pelos do tecido social conservador e dos costumes conservadores e as vezes hipócritas da colonial moral da planície, ó libidinoso fauno...

No teatro das minhas lembranças, te vi nos palcos com seu atrevimento poético e sua figura -entre apolínea e dionisíaca - dominando a cena ao dizer sobre sobre o doce mel do prazer da carne, o suave cheiro do açúcar dos nossos doces, e como um guerreiro goitacá zangado, apontando a flecha para os exploradores do povo, e denunciando o amargo sabor dos desgovernos de nossas elites dirigentes...e isso com a coragem dos nossos quilombolas -que foram tantos- porque vivíamos em pleno período da ditadura militar e civil-empresarial em nosso país! Também vieram amenidades de nossos papos descontraídos sobre mulheres, música, cachaça e outras cositas mais, que ninguém é de ferro(desculpe o momento de erudição, mas já dizia Nietzsche "a arte existe para que a realidade não nos destrua"). 

Também desfilaram pelos campos do pensamento nossos encontros nos campos de futebol,eu do meu jeito, e você com jogadas refinadas de quem foi moleque jogando pelada nos campinhos e terrenos baldios que outrora existiam por toda parte, não é mesmo? Há quem jure ter visto visto você falando para a bola: "Vem, Poema número II"...

E foi então que apareceu ao Professor e atento historiador da cultura campista, entre o ofício e o deslavado amor à Terra, o Artur conquistador de um belo espaço no cenário cultural do país com um reconhecimento de muitos aplausos pelos diversos cantos e antologias atestando sua presença consagrada, embora você nem ligue pra isso e muitos conterrâneos infelizmente nem deram conta disso...e você continua andando pra baixo e pra cima pelas ruas de sua cidade esbanjando o vigor dos sexogenários ...como também o sou. E o que dizer de suas músicas, belas parcerias e instigantes participações e vitórias No Tempo dos Festivais?

E agora, como é lindo ver o meu filho Helinho estar atento ao seu trabalho e me dizer: Papai, admiro muito a arte, o talento do Artur!

Viu, Gato Velho, tá ficando que nem vinho bom,hein? Passando de geração em geração. E tenho certeza de que assim permanecerá na alma de nosso povo por muitas e muitas gerações: isso é o que acontece com quem escreve sua biografia no Bronze da História!

Além do abraço forte, tipo abraço de Homem da Baixada - que aperta forte em cima mas não deixa que se toquem as partes "de baixo"-, era mais ou menos isso que eu queria te falar. Taí o meu abraço e o meu carinho por você. Em 29 de agosto de 2015.

Helinho Coelho


Dê livros

Dê Lírios

Dê Beijos

 Doações para Biblioteca Bracutaia – endereço: Ong Beija Flor – Casa da Solidariedade – Rua Ari Parreira, 26 – Barra Velha – Gargaú – São Francisco do Itabapoana-RJ – 28230-000

 

era uma vez um mangue

por onde andará Macunaíma

na sua carne no seu sangue

 

na medula no seu osso

será que ainda existe algum

vestígio de Macunaíma

na veia do teu pescoço?

                 cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto

Clic no link para ver o vídeo

https://www.facebook.com/artur.fulinaima.5/videos/1179896886171727

                            NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.

Não cabemno poema o gása luz o telefonea sonegaçãodo leiteda carnedo açúcardo pão

O funcionário públiconão cabe no poemacom seu salário de fomesua vida fechadaem arquivos.Como não cabe no poemao operárioque esmerilaseu dia de açoe carvãonas oficinas escuras

— porque o poema,senhores,está fechado:“não há vagas”

Só cabe no poemao homem sem estômagoa mulher de nuvensa fruta sem preço

O poema, senhores,não fede
nem cheira


Ferreira Gullar

Clic no link para ver o vídeo

https://www.facebook.com/artur.fulinaima.5/videos/347873690690035

1º de Abril


telefonaram-me
avisando-me
que vinhas.
na noite uma estrela
ainda brigava
com a escuridão.

na rua
sob patas
tombavam
homens indefesos.

esperei-te 20 anos
e até hoje
não vieste
à minha porta.



Artur Gomes

Do livro Suor & Cio – 1985

www.suorecio.blogspot.com

Pátria A(r )mada – 2019

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com

 

clic no link para ver o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=JVefD4eS2kY

alguns se sentem salvos

abrigados no templo

perdem tempo com teorias
amargos e santificados

e apontam dedos
aos que não se arrependem de viver

aos que dançam de mãos dadas
com suas loucuras

aos que lambem os dedos
lambuzados com delícias

aos que acreditam em pequenos milagres
vindos do esgoto a céu aberto

aos que tiram o dia para chorar
amam na cama, na mesa ou no chão

aos que gostam do corpo, da pele, do cheiro e do gozo
aos que pulsam sem o prazer das carícias

aos que vivem e vibram com vida solta
livres, generosos e sem cabrestos

aos que se dão conta da sua liberdade
é meio caminho andado

(cuidem-se então
e sejam Mestres para si mesmos)

um dia, mais cedo ou mais tarde
todos chegam ao fim da linha

Poema de Benette Bacellar - 2022
Laura Makabresku Art

POEMA PARA MARIELLE FRANCO

 (rascunhado na noite de sua brutal execução)

 

certeiros, os projéteis 

                  da janela

                  da mira

                  do gatilho

atingem o alvo

 

calculadas, as balas 

                     na cabeça marcada

                     na mente visada

                     na ação inadequada 

cumprem a função de calar

 

não foi apenas o sangue

jorrado na execução 

não foi apenas a carne

(negra, para não fugir das estatísticas)

caça abatida no voo, ração 

provimento dos sem razão 

 

ali, naquele automóvel 

ensanguentado

e

incômodo 

foi abatida a utopia

        calada uma voz que era de muitos

        derrubado o pilar da esperança 

        executada a possibilidade de redenção 

 

Dalila Teles Veras

 [14.03.2018]

 (* poema do livro 'Tempo em fúria', p. 11)

 

No porão


Minha mãe na máquina debruçada
costurava vestidos
e eu, menina, sonhava

Meu avô
do alto dos seus bigodes
parecia parecia sorrir
no seu retrato pintado
por um artista lambe-lambe

A vida corria serena
e eu, menina, sonhava

Hoje
o retrato do meu avô
descansa, inglório
no porão

Dalila Teles Veras

[À janela dos dias
poesia quase toda]

                            Cântico dos Cânticos                               Para Flauta e Violão

 oferta:

 

saibam quantos este meus versos virem

que te amo

do amor maior

que possível for

canção e calendário

sol de montanhas

sol esquivo de montanhas

felicidade

teu nome é

Maria Antonieta D´Alkmin

no fundo do poço

no cimo do monte

no poço sem fundo

na ponte quebrada

no rego da fonte

na ponta da lança

no monte profundo

nevada

entre os crimes contra mim

Maria Antonieta d´Alkmin

felicidade forjada nas trevas

entre os crimes contra mim

Maria Antonieta d´Alkmin

não quero mais as moreninhas de Macedo

não quero mais as namoradas

do senhor poeta

Alberto d´Oliveira

quero você

não quero mais

crucificadas em meus cabelos

quero você

não quero mais

a inglesa Elena

não quero mais

a irmã na Nena

não quero mais

a bela Elena

Anabela

Ana Bolena

quero você

toma conta do céu

toma conta da terra

toma conta do mar

toma conta de mim

Maria Antonieta d´Alkmin

e se ele vier

defenderei

e se ela vier

defenderei

e se eles vierem

defenderei

e se elas vieram todas

numa guirlanda de flechas

defenderei

defenderei

defenderei

cais da minha vida

partida sete vezes

cais da minha vida quebrada

nas prisões

suada nas ruas

modelada

na aurora indecisa dos hospitais

bonançosa bonança

convite

escuta este verso

que eu fiz para você

para que todos saibam

que eu quero você

imemorial

gesto de pudor de minha mãe

estrela de abas abertas

não sei quando começou em mim

em que idade

em que eternidade

em que revolução solar

do claustro materno

eu te trazia no colo

Maria Antonieta d´Alkmin

te levei solitário

nos ergástulos vigilantes da ordem intraduzível

nos trens de subúrbio

nas casas alugadas

nos quartos pobres

e nas fugas

cais da minha vida errada

certeza de corsário

porto esperado

coral caído

do oceano

nas mãos vazias

das plantas fumegantes

mulher vinda da china

para mim

vestida de suplícios

nos duros dorsos da amargura

para mim

Maria Antonieta d´Alkmin

teus gestos saiam dos borralhos incompreendidos

que tua boca ansiosa

de criança repetia

sem saber

teus passos subiam

das barrocas desesperadas

do desamor

trazia nas mãos

alguns livros de estudante

e os olhos finais da minha mãe

alerta

lá vem o lança-chamas

pega a garrafa de gasolina

atira

eles querem matar todo amor

corromper o pólo

estancar a sede que eu tenho de outro ser

vem de flanco, de lado

por cima, por trás

atira

atira

resiste

defende

de pé

de pé

de pé

o futuro será de toda humanidade

fabulário familiar

se eu perdesse a vida

no mar

não podia hoje

te ofertar

os nevoeiros, as forjas, os Baependis

acalanto

acuado pelos moços de forcado

flibusteiro

te descobri

muitas vezes pensei que a felicidade sentasse à minha mesa

que me fosse dada no locutório dos confessionários

na hipnose das bestas feras

no salto-mortal das rodas gigantes

ela vinha intacta, silenciosa

nas bandas de música

que te anunciaram para mim

Maria Antonieta d´Alkmin

quando a luta sangrava

nas feridas que sangrei

com alfinete na cabeça te deixei

adormecida

no bosque

te embalei

agora te acordei

relógio

as coisas são

as coisas vêm

as coisas vão

as coisas

vão e vem

não em vão

as horas

vão e vem

não em vão

compromisso

comprarei

o pincel

do Douanier

para te pintar

levo

pro nosso lar

o piano periquito

e o reader ´s digest

para não tremer

quando morrer

e te deixar

eu quero nunca te deixar

quero ficar

preso ao teu amanhecer

dote

te ensinarei

o segredo onomatopaico do mundo

te apresentarei

Thomas Morus

Federico Garcia Lorca

a sombra dos enforcados

o sangue dos fuzilados

na calçada das cidades inacessíveis

te mostrarei meus cartões-postais

o velho e a criança dos jardins públicos

o tutu de dançarina sobre um táxi

escapados ambos da batalha do Marne

o jacaré andarilho

a amadora de suicídios

a noiva mascarada

a tonta do teatro antigo

a metade da Sulamita

a que o palhaço carregou no carnaval

enfim, as dezessete luas mecânicas

que precederam teu arrebol

marcha

todos virão para o teu cortejo nupcial

a princesa Patoreba

coroada de foguetes

a senhora Dona Sancha

que todos querem ver

o tangolomango

e seus mortos mastigados

nas laboriosas noites processionais

todos comparecerão

o camarada barbudo

o bobo-alegre

o salvado de diversos pavorosos incêndios

o frade mau

o corretor de cemitérios

e onde esciver

o Pinta-Brava

meu irmão

Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé

não quero sombra de cera

nem noite branca de reza

quero o velório pretoriano

de Sócrates

não o bestiário

de Casanova

não quero tochas

não quero vê-las

Tatá, Dudu, Popó, Sici, Lelé

o tio da América

a igreja da Aparecida

o duomo de Milão

o trem, a canoa, o avião

Tudo darei às mesas anatômicas

do mastigador de entranhas

himeneu

para teu corpo

construirei o dossel

abrirei a porta submissa

ligarei o rádio

amassarei o pão

black-out

girafas tripulantes

em pára-quedas

a mão do jaburu

roda de mulher que chora

o leão dá trezentos mil rugidos

por minuto

o tigre não não é mais fera

nem borboletas

nem açucenas

a carne apenas

das anêmonas

na espingarda

do peixe espada

trasncontinental ictiossauro

lambe o mar

voa, revoa

a moça encastra

enforca, empala

à espera eterna

do Natal

desventra o ventre donde nasceu

a neutra equipe

dos sem luar

no fundo, fundo

do fundo do mar

da podridão

as sereias

anunciarão as searas

mea culpa, lear

na hora do fantasma

entre corujas

Jocasta soluçou

o palácio de fósforo

múltiplas janelas

desmaiou

- por quê calaste os sinos?

meu filho filho meu

- dei, dei, dei

- onde puseste os reinos e as vitórias?

que estranha serenidade prometias?

- era ururpação, paguei

- passaste fome?

- muitas vezes comi as marés de meu cérebro

encerramento e gran-finale

nada te sucederá

porque inerme deste o teu afeto

no soco do coração

te levarei

nas quatro sacadas fechadas

do coração

deixei de ser o desmemoriado das idades de ouro

o mago anterior a toda cronologia

o refém de Deus

o poeta vestido de folhagem

de cocos e de crânios

Alba

Alfaia

Rosa dos Alkmin

dia e noite do meu peito que farfalha

a teu lado

terei o mapa-múndi

em minhas mãos infantes

quero colher

o fruto crédulo das semeaduras

darei o mundo

a um velho de juba

a seu procurador mongol

e a um amigo meu

com quem pretenderam

encerrar o sol

viveremos

o corsário e o porto

eu para você

você para mim

Maria Antonieta D´Alkmin

para lá da vida imediata

das tripulações de trincheira

que hoje comigo

com meus amigos redivivos

escutam os assombrados

brados de vitória

de Stalingrado

 Oswald de Andrade

 


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a poesia liberada de Artur Gomes - por Uilcon Pereira

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