SINOPSE: A poesia de Artur flui feito pluma ao vento, “a lavra da palavra quero seja pele pluma onde Mayara bruma já me diz espero, saliva na palavra espuma onde tua lavra é uma elétrica pulsação de Eros”. No entanto, a despeito da leva da linguagem que segue o ritmo interno da inspiração do poeta, camufla em partes, em outras escancara, o caráter ardente da poesia que chama por Eros. Repleta de paixão e de fogo, as imagens de amantes, as analogias do sexo desprendem deste clamor contido no peito de Artur, mas que, pelo fazer das letras desenvolve-se na liberação dos desejos mais sensuais, “essa ostra no mar das tuas pernas”, ou mesmo quando o poeta compara a procura pela palavra com o escavar libidinoso que os amantes fazem um pelo corpo do outro, “tudo o que quero conhecer a pele do teu nome / a segunda pele o sobrenome / no que posso no que quero”. Embora, por ser poesia, as palavras sejam como “flor”, esta metáfora, esta alegoria bela e perfumada exala da queimada ardente da linguagem, feito mulher prenhe de libido, “a pele em flor a flor da pele / a palavra dândi em corpo nua / a língua em fogo a língua crua / a língua nova a língua lua”. Esta poesia tão luxuriosa incendeia o solo urbano, tanto quanto a natureza, falando da monotonia urbana de São Paulo, que alucina a sobriedade do poeta com sua beleza cruel, cidade no qual o “matadouro” é a arte concreta. Mas feito pluma ao vento a poesia de Artur enxerga o fogo da paixão, da convicção voando também para longe da violência e tribulação urbana, pairando sobre a mágica enamorada das praias, do vento, das sombras, da natureza, local onde residem os aspectos matrimoniais da união homem-mulher, “qualquer que seja a hora em que se beijam num pontal em comunhão total com a natureza”. As juras do poeta ardente profanam o sagrado, quando em sua retórica e discurso extrapolam a rigidez das formas, mas, em ousadia apelam para as rezas e para o caráter inviolável das promessas com uma “violência antropofágica erótica”.
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gosto da leveza dos dedos
deslizando feito pluma
penetrar a carne
e as sensações saltarem
para o abismo do poema
depois dos saraus
ela ia de pele
e na pele dela eu ia
para trancoso
litoral da bahia
ou para raposo
estação d´água de itaperuna
curtir a pedra do toque
ela sempre me disse
sentir mais minha carne
que a pedra do arpoador
em maresia
e
sempre gozou mais
quando a saliva
por entre o anus
escorria
Pastor de Andrade
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TOQUES PARA PENETRAR NA NOITE ESCURA DESTA
PÁTRIA
A(R)MADA
1
Artur Gomes é daqueles poetas que não se contentam em grafar suas palavras
apenas nas páginas de um livro. Ele inscreve seus poemas no próprio corpo, na
própria voz. Misto de ator saltimbanco e trovador contemporâneo, seus versos
ritmados e musicais redobram a força quando saltam do papel para a garganta. O
CD Fulinaíma – Sax, Blues Poesia, que gravou em parceria com os
músicos Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e ReubesPess, nos primórdios deste
terceiro milênio, é uma das experiências mais bem-sucedidas da fusão entre
poesia oralizada e música: os versos lancinantes surgem como navalhas de corte
preciso entre os blues, bossas, rocks e baladas. Navalhas que acariciam, mas
também cortam a pele do ouvinte.
Há delícia e dor em sua poética. Uma delícia sensual, sexual, que se explicita
em versos como “poderia abrir teu corpo / com os meus dentes / rasgar panos e
sedas // com as unhas /arreganhar as tuas fendas / desatar todos os nós // da
tua cama arrancar os cobertores / rasgando as rendas dos lençóis”. Há dor por
uma terra prometida e sempre adiada, “por uma bandeira arriada / num país que
não levanta”. É nesse espaço entre a delícia e a dor que o trovador levanta sua
voz e emite seus brasões em alto e bom salto, a plenos pulmões: “eu não tenho
pretensões de ser moderno / nem escrevo poesia pensando em ser eterno / veja
bem na minha língua as labaredas do inferno / e só use o meu poema com a força
de quem xinga”.
2
Cada poeta escolhe sua tribo, reinventa seus ancestrais. A tribo de Artur Gomes
vem de uma vasta tradição de trovadores inquietos e inquietantes, hábeis no
trato do verso e ferinos no uso do humor, do amor e da revolta. Uma linhagem
que vai de Arnaut Daniel a Zé Limeira e passa por Oswald de Andrade, Torquato
Neto, Paulo Leminski e Uilcon Pereira, para listar alguns.
Cada poeta inventa também o território mítico onde mergulha sua poesia e sua
própria vida. Alguns de maneira explícita, outros, mais velada. Há muitos anos
surge na poesia de Artur o termo “Fulinaíma”, como uma Macondo espectral, que
perpassa livros, sobe aos palcos, atravessa as faixas do CD. Seria um
território de folias macunaímicas, uma terra de prazeres e ócios criativos,
avessa ao eterno passado colonial que não conseguimos nunca superar, como o
fantasma de antigos engenhos em que a “usina / mói a cana / o caldo e o bagaço
// usina / mói o braço / a carne o osso // usina / mói o sangue / a fruta e o
caroço // tritura suga torce / dos pés até o pescoço”?
3
Artur Gomes é também daqueles poetas que vivem reescrevendo seus poemas,
reinserindo-os em outros contextos, reinventando “a poesia que a gente não
vive”, aquela mesma que transforma “o tédio em melodia” - para relembrar
Cazuza, outro bardo pertencente a mesma tribo. Quem acompanha sua trajetória
errante e anárquica provavelmente vai identificar neste livro poemas já
publicados em outros – porém, com modificações de tonalidades, de timbres, de
intenções.
Se não
é despropositado pensar que Dante Alighieri enxertou em sua Divina Comédia
inúmeras desavenças políticas, sociais e culturais de sua época e mandou para o
inferno pencas de seus inimigos florentinos, é interessante perceber este
Pátria A(r)mada reinventado no contexto deste Brasil que retrocedeu décadas
depois do golpe político-jurídico-midiático deflagrado em 2016. Esses tempos
passarão, é certo, mas este livro ficará – como um potente desconforto, um
desajuste, um desconcerto desse mundo cão e chão. Se vale como trágica profecia
– ao modo do cego Tirésias –, após um breve período de sonhos que mais uma vez
não se cumpriram, os olhos abertos desses versos ecoarão
nos
ouvidos de muitos e cortarão a carne de tantos: “ó, baby, a coisa por aqui não
mudou nada / embora sejam outras siglas no emblema / espada continua a ser
espada / poema continua a ser poema”.
Ademir
Assunção – poeta, escritor, jornalista e letrista de música brasileira. Autor de livros de
poesia, ficção e jornalismo, venceu o Prêmio
Jabuti 2013 com A voz do Ventríloquo (Melhor
Livro de Poesia do ano). Poemas e contos de sua autoria foram traduzidos para o
inglês, espanhol e alemão, e publicados em livros e revistas na Argentina,
México, Peru e EUA.
A Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo, nasceu em dezemvro de 1990, durante uma viagem em que cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então ETFC(IFF), a Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana Cultural desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá conheci Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.
A Igreja Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a 1ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas dependências do Ginásio de Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei o livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas.
O grande objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da África e Grécia para de alguma forma descobrir de onde vem as nossas ancestralidades. De alguma forma e em alguns momentos mitologia grega e africana se misturam e viajando metaforicamente nessas realidades reinventadas vim desaguar no Vampiro Goytacá canibal Tupiniquim.
Artur Gomes
https://arturgumes.blogspot.com/
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