quarta-feira, 17 de setembro de 2025

a poesia liberada de Artur Gomes - por Uilcon Pereira

COURO CRU & CARNE VIVA
Isso é um poema ou uma navalha?

Difícil a pessoa passar pela vida sem cometer poesia. Aquela paixãozinha, aquele namorico desfeito, aquela dor de cotovelo deixam a gente desamparado. E como psicanalista está caro e nem sempre fica bem buscar o consolo da mamãe, a gente corre depressa pro colo quente da poesia, fazendo uns versinhos que não conseguem ultrapassar os estreitos limites do eu apaixonado, do eu angustiado, do eu ferido.

 

Para a maioria das pessoas, poesia é coisa que dá e passa, principalmente na adolescência. Raros são aqueles que conseguem romper o exíguo círculo traçado em redor de si para entrar no terreno da verdadeira poesia.

A quase totalidade das pessoas que faz “poesia” julga que ser poeta é fácil. Um pouquinho de sentimento, uma frase iniciada com letra maiúscula, outras frases colocadas abaixo da primeira e ponto final. Pronto. Fiz um poema. Poeta que é poeta saque que fazer poesia não é mole mas consegue escrever um poema até quando a inspiração está efervescente no intestino e “não quer sair”. Preste só atenção em Drummond .

“Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira”.

Eis aí o Estado de Poesia, comoção lírica todos nós temos pelo menos uma vezinha na vida. Transformá-los em verdadeiros poemas é que são elas. Artur Gomes começou, como todo mundo, fazendo seus versinhos, mas desde o início, revelou um pendor incomum. A poesia para ele , era compromisso e não diletantismo ou fuga. Bem cedo, suas antenas sensíveis perceberam as misérias do mundo, particularmente as do em que ele vive, o terceiro. Sem armas brancas ou de fogo, impossibilitado de se transformar em guerrilheiro, ele fez da poesia, uma arma que cada dia afia mais.

Terceiro mundista, brasileiro e malandro, ele não quis saber de espada, cimitarra, alfanjes, floretes, sabres e alabardes para travar suas lutas. Em vez, preferiu a navalha que corta frio e fino, sem que a gente perceba, até o sangue começar a escorrer. E sua marca não sai mais. Os poemas de Artur Gomes cortam feito navalha e deixam uma cicatriz indelével que nem plástica remove. Implacável e habilidoso no manejo da sua arma , ele arremete contra os fabricantes de injustiças. Sua poesia revela preocupações sociais, políticas e ecológicas, não poupando os mitos forjados pela história. Além de contestador, iconoclasta.

Não se pense, porém que Artur Gomes vive mergulhado em profunda amargura. Ele sabe cantar também os prazeres do amor, do erotismo, a luxúria do ambiente tropical e o gozo pela vida. Sua poesia é também resistência à desfiguração cultural do nosso país.

 

Nem se pense também que a poesia em suas mãos, se reduz a um instrumento de protesto. Conquanto crítico e preocupado com o social, o político, e o ecológico, Artur Gomes demonstra também uma grande preocupação com questões técnicas. Artista, ele também é artesão. Trabalha seus poemas à exaustão, procura explorar as possiblidades da palavra e o suporte físico da página. Faz experiências no campo do concretismo, construindo poemas com palavras decompostas que só podem ser inteiramente compreendidas visualmente: a pá/lavra; re-par-tiu-se. Eis dois exemplos. Mas é fundamentalmente para o ouvido que se destinam os seus poemas. O espaço em que faz zunir e reluzir a sua navalha é sonoro e musical. O tempo passa e os poemas de Artur Gomes tornam-se cada vez mais musicais e ritmados.

Outro traço que se acentua na evolução do seu trabalho: a concisão. A cada livro publicado, nos deparamos com um poeta sempre mais econômico. Na linha de um Oswald de Andrade e de José Paulo Paes, ele escreve poemas curtos, enxutos, incisivos, que ferem como o diabo. Não rompe com a rima e com a métrica, mas não se deixa aprisionar por elas.

Ambas estão presentes o tempo todo em seu trabalho sem que se possa garantir que não sejam ocasionais. A rima, por exemplo quando rompe, traz um efeito inusitado. Tanque rima com ianque, parque rima com dark. E aqui há outro aspecto digno de registro: Artur Gomes incorpora as novidades, mas nunca fica deslumbrado com elas. É moderno muitas vezes experimentalista, mas respeita a tradição. Não sei de suas leituras, mas deve tomar bênção aos clássicos.

Não rompe com a métrica, com a rima e com a estrutura do poema, mas não cai na poesia convencional. É agressivo, mas não perde nunca de vista o sentido maior da poesia. Isso não quer dizer, em contrapartida, faça arte pela arte, mas muito menos significa que se deixa envolver nas facilidades da poesia de protesto feita sob encomenda.

O poeta está aí, inquieto, equilibrando-se na corda bamba. Pode começar a ler os seus poemas, leitor. Agora se você faz parte daquele grupo de pessoas que tiram partido da miséria e destruição, tome cuidado com Couro Cru & Carne Viva. Os poemas navalha de Artur Gomes certamente não terão piedade de você.

Aristides Arthur Soffiati
Campos, agosto de 1987

V(l)er mais no blog
Retalhos Imortais do SerAfim
https://secretasjuras.blogspot.com/

 



 Há uma passagem, em Auto do Frade, de João Cabral, que me chamou a atenção:

 

“- Fazem-no calar porque, certo

sua fala traz grande perigo.

- Dizem que ele é perigoso mesmo

falando em frutas e passarinhos.”

 

Vislumbro aí uma espécie de definição do alto poder transgressor da poesia, do poeta , da arte em geral: deixar fluir uma energia de protesto e indignação, crítica e iluminação da existência, qualquer que seja o pretexto ou o ponto de partida.

 

Por exemplo -: Suor & Cio, novo poemário de Artur Gomes. Na sua primeira parte (Tecidos Sobre A Terra) lemos um testemunho direto sobre as misérias e sofrimentos na região de Campos dos Goitacazes, interior fluminense. Não se canta amorosamente as lavouras de cana e grandes usinas, os aceiros e céus de anil. Ao contrário. Ouvimos uma fala que “traz grande perigo”, efetivamente ao denunciar – com aspereza e às vezes até com extremo rancor – a situação histórico-social, bruta e feroz, selvagem e primitiva, da exploração do homem no contexto do latifúndio e da monocultura.

 

“usina mói a cana

o caldo e o bagaço

usina mói o braço

a carne o osso”

 

Mas esta poesia dura, cortante e aguda, mantém igualmente a sua força de transgressão – continua revolucionária e perigosa – mesmo quando tematiza (principalmente em Tecidos Sobre A Pele, segunda parte do livro) as frutas, ou o prazer sexual, os seios, o carnaval, o mar, e os impulsos eróticos. Por detrás dos elementos bucólicos e parasidíacos (só nas aparências bem entendido), eis que explode o censurado o reprimido, o que não tem vergonha nem nunca terá:

 

“arando o vale das coxas

com o caule da minha espada

no pomar das tuas pernas

eu planto a língua molhada”.

 

Por isso, frequentemente os poemas se debruçam sobre o próprio ofício do poeta, e sobre o próprio sentido do fazer artístico, Ofício de Artista, experiência de poeta: presença do risco e da violação das normas injustas: carnavalizando, desbundando,a troup-sex, infernizando o céu e santificando a boca do inferno, denunciando o rufo dos chicotes, opondo-se aos donos da vida que controlam o saldo, o lucro e o tesão.

 

Os versos de Artur Gomes querem ser lidos, declamados, afixados em cartazes, desenhados em camisas. E vieram, para ficar nas memórias e bibliotecas da nossa gente, apesar do suor e do cio, e graças ao  suor e aocio:

 

“com um prazer de fera

e um punhal de amante”.

 

Uilcon Pereira

São Paulo, julho 1985

 

REVerso

 

Oswaldianamente

ainda não sei bandeira

nem levo o barco

ao rei da vela

 

: minha paixão

ainda é mangueira

desfilando na portela

 

SEIO DA TERRA

 

bem no centro do universo

te mando um beijo ó amada

enquanto arranco uma espada

do meu peito varonil

 

espanto todas estrelas

dos berços do eternamente

pra que acorde toda essa gente

deste vasto céu de anil

 

pois enquanto dorme o gigante

esplêndido sono profundo

não vê que do outro mundo

robôs te enrabam ó mãe gentil!

 

PARA Torquato Neto

                                        in memória

 

aqui estou na brasiléia tropicalha

em populácea militância

pornofágica

desbundando a marginalha

em poesia su-real

 

para esquecer que a circunstância

é um pouco trágica

e não dizer

que o meu brasil dançou geral


TRINCHEIRA

 

há uma gota de sangue

entre os meus olhos

                      e os teus

 

e muitas velas acesas

para salvar a nossa carne

e bocas cheias de dentes

mastigando a nossa morte

 

mas eles é que morrerão

meu amor : num grande susto

quando NUS virem

amando  nessa cama

de ferro e de pau duro

 

CORAÇÃO DE GALINHA

 

não sou tigresa

em tua cama

nem caviar em tua mesa

não sou mulher de fama

muito embora sempre tesa

 

não vim da boca do lixo

saí da pele do ovo

meu coração de galinha

virou orgasmo do povo

 

COITO

 

teu corpo é carne de manga

em meu pênis viril

enquanto sangra

quando beijo tua boca

                     enfurecido

rasgando por trás

          o teu vestido

 

COR DA PELE

 

árica sou: raíz e raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema

 

o negro na pele é só pirraça

de branco na cara do sistema

no fundo é amor que dou de graça

dou mais do que moça no cinema.

 

CARNE PROIBIDA

 

o preço atual

proíbes que me comas

mas pra ti estou de graça

pra ti não tenho preço

sou eu quem me ofereço

a ti: músculo & osso

leva-me à boca

e completa o teu almoço


OFÍCIO

 

ponho minha gema em tua blusa

para que pule no teu peito minha musa

toda tensão de ter tua pele em meu poema

 

meu ofício é de poeta

pra rimar poema e blusa

e ficar na tua pele

pelo tempo em que me usa

 

VOO SELVAGEM

 

com espada em riste

galopamos pradarias

e lutamos ferozmente

por dois segundos e meio

 

tua  fúria era louca

e agarrei-me em tuas crinas

para não cair na lama

 

mas o amor era tanto

e tanto era o prazer

quando fomos pra cama

não tinha mais o que fazer

 

ROSANA

 

nadar por sobre o peixe

dos teus olhos

e penetrar as profundezas

do teu útero

 

assim quando prepara

um outro nascimento

na escuridão

que a sua luz dê Flora

 

e com um membro teso

vazar a claridade

que em teus seios mora

 

 Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições – 1985


Relendo algumas cartas  antigas metáforas de fogo de uma deusa incendiária para aquecer o clima nessa manhã de chuva primavera entrou desaguando nuvens de algodão outubro ou nada por sobre as teias que aranhas tecem entre cogumelos e amoras azuis vermelhas olhos de sangue que bebi naquela carta que recebi na madrugada


 

Studio Fulinaíma Produção Audiovisual

https://www.facebook.com/studiofulinaima



COURO CRU & CARNE VIVA

 Isso é um poema ou uma navalha?

 Difícil a pessoa passar pela vida sem cometer poesia. Aquela paixãozinha, aquele namorico desfeito, aquela dor de cotovelo deixam a gente desamparado. E como psicanalista está caro e nem sempre fica bem buscar o consolo da mamãe, a gente corre depressa pro colo quente da poesia, fazendo uns versinhos que não conseguem ultrapassar os estreitos limites do eu apaixonado, do eu angustiado, do eu ferido. Para a maioria das pessoas, poesia é coisa que dá e passa, principalmente na adolescência. Raros são aqueles que conseguem romper o exíguo círculo traçado em redor de si para entrar no terreno da verdadeira poesia. A quase totalidade das pessoas que faz “poesia” julga que ser poeta é fácil. Um pouquinho de sentimento, uma frase iniciada com letra maiúscula, outras frases colocadas abaixo da primeira e ponto final. Pronto. Fiz um poema.  Poeta que é poeta saque que fazer poesia não é mole mas consegue escrever  um poema até quando a inspiração está efervescente no intestino e “não quer sair”.  Preste só atenção em Drummond .

 

“Gastei uma hora pensando um verso

que a pena não quer escrever.

No entanto ele está cá dentro

inquieto, vivo

e não quer sair.

Mas a poesia deste momento

inunda minha vida inteira”.

 

Eis aí o Estado de Poesia, comoção lírica todos nós temos pelo menos uma vezinha na vida. Transformá-los em verdadeiros poemas é que são elas. Artur Gomes começou, como todo mundo, fazendo seus versinhos, mas desde o início, revelou um pendor incomum. A poesia para ele , era compromisso e não diletantismo ou fuga. Bem cedo, suas antenas sensíveis perceberam as misérias do mundo, particularmente as do em que ele vive, o terceiro. Sem armas brancas ou de fogo, impossibilitado de se transformar em guerrilheiro, ele fez da poesia, uma arma que cada dia afia mais.

 Terceiro mundista, brasileiro e malandro, ele não quis saber de espada, cimitarra, alfanjes, floretes, sabres e alabardes para travar suas lutas. Em vez, preferiu a navalha que corta frio e fino, sem que a gente perceba, até o sangue começar a escorrer. E sua marca não sai mais. Os poemas de Artur Gomes cortam feito navalha e deixam uma cicatriz indelével que nem plástica remove. Implacável e habilidoso no manejo da sua arma , ele arremete contra os fabricantes de injustiças. Sua poesia revela preocupações sociais, políticas e ecológicas, não poupando os mitos forjados pela história. Além de contestador, iconoclasta.

 Não se pense, porém que Artur Gomes vive mergulhado em profunda amargura. Ele sabe cantar também os prazeres do amor, do erotismo, a luxúria do ambiente tropical e o goso pela vida. Sua poesia é também resistência à desfiguração cultural do nosso país. Nem se pense também que a poesia em suas mãos, se reduz a um instrumento de protesto. Conquanto crítico e preocupado com o social, o político, e o ecológico, Artur Gomes demonstra também uma grande preocupação com questões técnicas. Artista, ele também é artesão. Trabalha seus poemas à exaustão, procura explorar as possiblidades da palavra e o suporte físico da página. Faz experiências no campo do concretismo, construindo poemas com palavras decompostas que só podem ser inteiramente compreendidas visualmente: a pá lavra;  re-par-tiu-se. Eis dois exemplos. Mas é fundamentalmente para o ouvido que se destinam os seus poemas. O espaço em que faz zunir e reluzir a sua navalha é sonoro e musical. O tempo passa e os poemas de Artur Gomes tornam-se cada vez mais musicais e ritmados.

 Outro traço que se acentua na evolução do seu trabalho: a concisão. A cada livro publicado, nos deparamos com um poeta sempre mais econômico. Na linha de um Oswald de Andrade e de José Paulo Paes, ele escreve poemas curtos, enxutos, incisivos, que ferem como o  diabo. Não rompe com a rima e com a métrica, mas não se deixa aprisionar por elas. Ambas estão presentes o tempo todo em seu trabalho sem que se possa garantir que não sejam ocasionais. A rima, por exemplo quando rompe, traz um efeito inusitado. Tanque rima com ianque, parque rima com dark. E aqui há outro aspecto digno de registro: Artur Gomes incorpora as novidades, mas nunca fica deslumbrado com elas. É moderno muitas vezes experimentalista, mas respeita a tradição. Não sei de suas leituras, mas deve tomar bênção aos clássicos. Não rompe com  a métrica, com a rima e com a estrutura do poema, mas não cai na poesia convencional. É agressivo, mas não perde nunca de vista o sentido maior da poesia. Isso não quer dizer, em contrapartida, faça arte pela arte, mas muito menos significa que se deixa envolver nas facilidades da poesia de protesto feita sob encomenda.

 O poeta está aí, inquieto, equilibrando-se na corda bamba. Pode começar a ler os seus poemas, leitor. Agora se você faz parte daquele grupo de pessoas que tiram partido da miséria e destruição, tome cuidado com Couro Cru & Carne Viva. Os  poemas navalha de Artur Gomes  certamente não terão piedade de você.

 

Aristides Arthur Soffiati

Campos, agosto de 1987




 A querida Pátria Amada  adormecida

agora acorda em mãos armadas

orientada por  genocida merdavalha

                  vamos cortar tua língua vil

               com  os meus fios de navalha

                esse brasil que come osso

          mora no abismo da mortalha

                     vamos degolar o teu pescoço

                     filho da puta vil canalha 



Artur Gomes 

fulinaimagens

www.fulinaimagens.blogspot.com

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Por Onde Andará Macunaíma?

o vôo
de Heras
EvoEros

enquanto espero

outras Eras

primasVeras nesse quase verão/inverno

que me tire desse purgatório

 nó da gravata

 quase mesmo inferno

nos abismos desse terno

recortado por Gamboa

mas não sou Pessoa

dessa pedra Itabira

esse pó quase me pira

muritiba muquirana

Itabapoana não me engana

Macunaína ainda vive

nas favelas de Copacabana

  

Federico Baudelaire

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Drummundana Itabirina

https://uilconpereira.blogspot.com/

essa dica não é minha

dia 11 de outubro

a Nação Goytacá

vai Balburdiar

na CasAmarÉlinha

 

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https://fulinaimargem.blogspot.com/

              jogo de dadaísta

não sou iluminista/nem pretender

eu quero o cravo e a rosa

cumer o verso e a prosa

devorar a lírica a métrica

a carne da musa

seja branca/negra

amar/ela vermelha verde

ou cafusa

eu sou do mato curupira carrapato

eu sou da febre sou dos ossos

sou da lira do delírio

e virgílio é o meu sócio

pernambuco amaralina

vida leve ou sempre/vida severina

sendo mulher ou só menina

que sendo santa prostituta

ou cafetina

devorar é minha sina

profanar é o meu negócio

 

Artur Gomes

Juras Secretas

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clique no link para v(l)er o vídeo filmado em Gargaú por Letícia Rcha com trilha sonora de Fil Buc

https://www.youtube.com/watch?v=szABRGqMqH8&t=10s

No próximo vinte e dois deste setembro dois mil e vinte e cinco finco os olhos na tela do ArteCult.com para v(l)er por onde andará Macunaíma?, coluna assinada pelo “bardo da cacomanga”. E por onde andará Macunaíma? Pelo polo sul ou norte? Ainda andará nos traços a lápis de José César Castro, o fógrafo/desenhista que não é casto?  Talvez com um pouco de sorte nos encontremos com ele naquela preguiça boa, escre/vivendo/falando poesia pelo litoral de São Francisco onde Itabapoana agora é pedra que voa.

E atenção jovens de Campos dos Goytacazes e região, no dia 27 deste na Casa de Cultura Villa Maria, você tem um encontro marcado com o Encontro Literário – Jovens Em Movimento – estejam atentos estejam alertas - mexam-se leiam pois só o conhecimento liberta  

Artur Gomes (Campos dos Goytacazes-RJ, 1948) é poeta, ator, produtor cultural e vídeo maker, com mais de cinco décadas de intensa atuação nas artes. Criador de projetos que marcaram a cena literária e audiovisual brasileira, como o FestCampos de Poesia Falada e a Mostra Visual de Poesia Brasileira, Artur construiu uma trajetória que une poesia, performance e experimentação multimídia.

Em 2019, lançou o Sarau Balbúrdia PoÉtica, que se tornou um espaço vibrante de celebração da poesia falada e da performance, circulando por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Cabo Frio e Campos dos Goytacazes. O projeto já realizou onze edições, incluindo participações em eventos de grande destaque, como a Bienal do Livro de Campos, e contou com apoio de instituições culturais e do portal ArteCult.com

Autor de mais de 15 livros publicados, entre eles Juras Secretas (2018), Pátria A(r)mada (2019, Prêmio Oswald de Andrade/UBE-Rio) e O Homem Com a Flor na Boca (2023), e Itabapoana Pedra Pássaro Poema (2025). Artur segue produzindo intensamente e difundindo a literatura contemporânea. Mantém o blog Nação Goytacá, https://arturgumes.blogspot.com/

 onde reúne a série TransPoÉticas – Coletânea de Poetas Vivos, reafirmando seu papel como articulador cultural e voz ativa da poesia brasileira.


Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268 – zap

@fulinaima @artur.gumes – instagram

fulinaima@gmail.com

arturgomes@artecult.com

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

no meio do caminho tinha uma musa


Sagaranagens Fulinaímicas 2

 

Itabapoana pedra pássaro

não é mais a pedra que corre na água do rio

como borboleta já fez sua metamorfose

e ocupa outro espaço no futuro

 

não sei se Bom Jesus nem sei se São Francisco

me arrisco dizer que

grande é o serTão veredas

na terceira margem do rio

quando pesco um peixe sagarânico

que não vale nada nesse mercado de consumo

 

concreto é o abstrato da metáfora

que o professor de Market

nos deu ontem na primeira aula

para  que tentássemos decifrar

nossos caminhos

na nuvem de fumaça que disfarça

a tempestade em nossos dias ?

 

Artur Gomes 

 09/08/2022

leia mais no blog https://porradalirica.blogspot.com/


                     Muito Prá Lá de Além do Mar


ontem conversando com Zeus
olha só o que me disse
:
- àquela Eva
que me roubaste
em outras Eras
no Jardim de Bento
quero a devolução

- Sai prá lá Zeus não sou Adão

- mas tuas juras secretas
me veio criar tormentas
insandeceu as serpentes
mudou do vento as correntes
no mar inverteu marés
incendiou luas cheias

- que posso fazer
se tenho veneno nas veias?
tenho o sangue intoxicado
por tudo que bebo e como
aliás não és meu dono
pra me dar ordens do além

- posso não ser seu dono
mas sou que vos ilumina
te botei nas mãos a menina
pra te arder de paixão
deixar tua alma feminina
e dilacerar teu coração

- seu descarado bandido
deixa de conversa fiada
que a menina que vos fala
alinhavou meus desvelos
bebeu meu sangue na sala
e despertou do pesadelo

 

Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com



embarcando na boa viagem


Ainda morava em Itabira em 1987 quando Gabriel de La Puente me convidou para o Seminário – Brasil: Uma Cultura Em Questão, que foi realizado naquele mesmo ano,  cidade paulistana de Batatais. Havia conhecido poucos meses atrás,  em São Paulo, Carlos Careqa e Hélio Letes em um culto da Igreja da Salvação pela Graça, na Casa de Cultura Oswald de Andrade.

Em Batatais, Gabriel escafedeu-se, se intrometeu com  uma noiva e teve que fugir da cidade.  Ficamos eu, Uilcon Pereira, Ricrdo Prereira Lima, Guilherme Almeida Prado e Artur Gomes, entregues a decoração dos contos eróticos de Adalgisa, a ninfomaníaca mineira, que apareceu por Batatais, numa noite de trovoadas nos recintos do Copo Sujo, o bar mais frequentado da cidade.

Quando Batatais já era uma pedra que ficou no meio do caminho, me mandei pra Curitiba, e por lá foram 45 dias de convivência com o Hélio e com ele aprendendo as utilidades das coisas inúteis e aí pouco tempo depois logo em 1990 já morando em Ouro Preto me torno o Mestre-Sala da Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo.

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimargem.blogspot.com/


A Traição Das Metáforas 2 

Hoje amanheci como naquela madrugada no hotel Dalonder procurando a estudante de arquitetura que pintou poemas no cachorro louco da cidade alta. tenho desejos de bento vinho uva sua carne trêmula pelos anos de esperar outubros novembro outro na porta do hotel tuas costas nua a contra luz frente a janela metáforas de fogo incendiando nossos medos tua língua nua molhada de cerveja na mesa de sinuca o segredo escrito em poesia sagrado tempo em que te dizer podia sem que ele rasgasse a página onde o poema estava escrito.

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimargem.blogspot.com/

no coração de qualquer flor

 

você não vai cuspir na minha cara

e mastigar antropofagicamente

depois lhe disser o que sinto

           e você me disser o que sente

 

por quê rasgou o couro do tambor

na hora de morrer?

não quis amar com medo de sofrer

como se o amor fosse apenas uma faca

cravada no coração de qualquer flor

 

federico baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/


peguei o ton

da Jenifer Aniston

azul dos olhos de umas  ostras

branco das espumas de Iemanjá

os mamilos da Rúbia Querubim

a mulher que Deus criou pra mim

nas  águas desse mar de Iriri

a ponte entre a pele de  sal pra se lamber

os Retalhos Imortais do SerAfim

e a carne de sol pra se comer

e a língua do céu pra se beijar

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/

Musa

que é musa

não tem vergonha de nada

escancara a cara no espelho

se desnuda pra fotografia

teu corpo camisa de vênus

a flor da pele irradia

rasgando a camisa de força

tua carne é só poesia


                      atentado poético


a hipocrisia aqui é muita

liberdade muito pouca

com meus dentes de navalha

vou rasgar a tua roupa

esse poema beijo/bomba

vai explodir na tua boca

 

Federico Baudelaire

https://arturfulinaima.blogspot.com/ 



no meio do caminho

a Carlos Drummond in Memória

 

na viagem de ida passageiros sonolentos

 não perceberam de cara 

o jogo de palavras que invento

mas na viagem de volta

em meio a alegria contagiante

percebemos que no DEPAC

tem um quarteto de poetas

os 4 cavaleiros da corte guardiões do apóscalipso

formado por Artur Gomes, Caio Valeriote

Paulo Roberto Cunha e Roberto Acruche

um deles é o bardo da cacomanga

muitos de seus recitais já assisti de camarote

mas não foi só essa a genial descoberta

sabemos que em cada janela aberta 

se avista  uma paisagem

e  nesta incrível  viagem

nas trilhas do m de cada   mão

numa sacada soberana

do poder da criação

descobrimos que na SMEC

de São Francisco de Itabapoana

esse  município encantador

tem um terceto de Carlos:

Carlos Alberto, Carlos Junior e Carlos Salvador

que para se tornar quarteto

precisa de um outro Carlos

e quem sabe um novo  seguidor

de Carlos Drummond de Andrade

encontraremos pelas Escolas   dessa visionária  cidade ?

 

mas no mesmo seio dessa vertiginosa  viagem

ao invés do mineiro de Itabira

descobrimos que em Imburi

tem um Vanzinho galanteador

um orador de sonetos

que tem um sonho secreto

para uma amorosa conquista

 com Viviane Teixeira Gomes

 

sua   Vivi sempre na mira

a  musa inspiradora

dona dos seus poemetos

e em seu delírios marotos

como desenhos de aquarela

 promete  jantares  coloniais

iluminados  por   luz de velas

regadas a vinho galioto

 

mas se esquece o tal garoto

que a musa  Vivi não é fácil

deixa sempre o poeta

beijando o branco do pergaminho

e como um poema Drummundano

pedra no meio do caminho

mais uma vez se não me engano

 Vivi deixou o cantador do  Imburi

seguir           mais uma vez  sozinho 

 

Federico Baudelaire

Mestre Sala da Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No Inconsciente Coletivo


            Arte Digital - Ademir Antonio Bacca

         no coração dos boatos

 agora que descobri ser o irmão mais novo de Biúte vou morar nos telhados do Palácio Jaburu. Assim posso ver todos os fantasmas que transitam nos corredores do Palácio depois da meia noite. E pelas minhas contas são muitos, pelo menos 583 já vi passeando por ali, numa orgia desenfreada de lavagem de roupa suja, apesar de todos estarem travestidos de terno e gravata, não escondiam o mal cheiro que exalava de suas caricaturas.  

 E já que a PF prendeu o ex-sinistro da educação pelos desvios de verba para o pastor terrivelmente evangélico,  porque então que ela, a PF não prende o mandante, já que o ex-sinistro confessou desde março, que recebeu ordens do genopresidentecida para agradar com alguns milhões de reais os “cristãos do bem” pastores que fazem  “arminhas” para um  rebanho de idiotas, que se aglomeram em orações, em frente  a postos de gasolina, sonhando que a PETROBRAS ouvindo suas preces vai abaixar o preço da gasosa. Cambada de imbecis, o preço do combustível no Brasil, é controlado pela PPI (Paridade de Preços de Importados),  a blasfêmia criada pelo vampirotemer, quando assumiu a presidência depois do golpe de estado desferido  na presidenta Dilma.

         O Bardo da Cacomanga

volta aos palcos 

 E dessa forma indignado, saio de Itabira, Nossa Senhora da Conceição do Mato Dentro, vou direto a Estação 353 em São Francisco de Itabapoana, entrevistar o Bardo da Cacomanga que neste final de semana volta aos palcos em Campos dos Goytacazes-RJ, com a Geleia Geral – Revirando a Tropicália – dia 24 às 19h na Santa Paciência Casa Criativa e dia 25 na Intervenção Poética: Viva Poesia Viva, a partir das 16h na Festa Junina no SESC Campos.

 O Bardo da Cacomanga, está tão indignado quanto eu, ou mais até, e quase tudo o que me confessou  é impublicável.  Mas posso adiantar que na Geleia Geral, ele soltará o verbo com poemas do Torquato Neto e Paulo Leminski, e estará acompanhando por Beth Rocha ao piano.

 Com as participações também do músico compositor e cantor  Reubes Pess e da cantora Macella Roza.

 A Geleia Geral é uma reflexão sobre o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 tendo como referências  o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade e Macunaíma -  o herói sem nenhum caráter – de Mário de Andrade.

 

Federico Baldelaire

Em 28 – junho – 2022

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sagaraNAgens fulinaímicas

 

guima

meu mestre

guima

em mil perdões eu vos peço

por esta obra encarnada

na carne cabra da peste

da Hygia Ferreira bem casta

aqui nas bandas do leste

a fome de carne é madrasta

 

ave palavra profana

cabala que vos fazia

veredas em mais Sagaranas

a Morte em Vidas/Severinas

tal qual antropofagia

teu grande Sertão vou cumer

 

nem João Cabral Severino

nem Virgulino de matraca

nem meu padrinho de pia

me ensinou usar faca

ou da palavra o fazer

 

a ferramenta que afino

roubei do mestre Drummundo

que o diabo GiraMundo

é o Narciso do meu Ser

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

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todo dia que não amanhece

anoitece

quem nunca leu sagaranagens

não pode dizer que me conhece 


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a poesia liberada de Artur Gomes - por Uilcon Pereira

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